Esta semana, dei-me conta de que, apesar de termos a tag direcionada a filmes e séries, raramente falamos deles. Então por que não abordar aqui, muito justamente, o meu filme predileto na postagem de hoje? Apresento-lhes, meus caros...
O SEGREDO DOS SEUS OLHOS
Título original: El Secreto de Sus Ojos
Lançamento: 2009 (Argentina, Espanha)
Direção: Juan José Campanella
Atores: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino
Duração: 127 min
Gênero: Drama, Romance Policial
Classificação Indicativa: 16 anos
Link para assistir online ou fazer o download AQUI
Sinopse
Benjamin Espósito (Ricardo Darín) se aposentou recentemente do cargo de oficial de justiça de um tribunal penal. Com bastante tempo livre, ele agora se dedica a escrever um livro. Benjamin usa sua experiência para contar uma história trágica, a qual foi testemunha em 1974. Na época, o Departamento de Justiça onde trabalhava foi designado para investigar o estupro e consequente assassinato de uma bela jovem. É desta forma que Benjamin conhece Ricardo Morales (Pablo Rago), marido da falecida, a quem promete ajudar a encontrar o culpado. Para tanto ele conta com a ajuda de Pablo Sandoval (Guillermo Francella), seu grande amigo, e com Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil), sua chefe imediata, por quem nutre uma paixão secreta.
Antes de qualquer outra coisa sobre este filme, ressalto que é o meu predileto. Se pedissem-me para fazer uma lista de 10 filmes de que mais gosto... Sinto muito... Os 10 seriam O Segredo dos Seus Olhos, que vale por muitíssimos, afinal.
Vencedor do Oscar de Melhor Estrangeiro de 2010, o filme argentino é o mais assistido na categoria nacional em seu país nos últimos 35 anos. Baseado no livro La Pregunta de Sus Ojos, de Eduardo Sacheri, é considerado uma rara exceção pela crítica. Daquelas em que a obra cinematográfica supera a literária. Entendam, Campanella é mestre no que faz e após assistirem a esse filme, compreenderão o porquê de tantos elogios.
Começamos com o memorável Benjamin, um dos melhores protagonistas com os quais já me envolvi. Benjamin é humano, é sarcástico, irônico, movido pelas emoções, intenso. A este início, temos um fato memorável e importantíssimo na história. A primeira vez em que ele viu Irene, que vinha para ser sua chefe, e o reencontro dos dois mais velhos, após muitos anos. Está ele em idade mais avançada, agora um oficial de justiça aposentado, tentando redigir o livro sobre o Caso Morales, o trauma de sua vida, que desencadeia as mais variadas memórias: o estupro seguido de assassinato da jovem Liliana Coloto. O ponto que, de certa forma, ata todas as linhas da história.
O tempo do filme é psicológico: avança e retrocede, oscila em um espaço de aproximadamente 20 anos. Há uma sequência de imagens no começo que varia entre Benjamin escrevendo e os fatos do passado ocorrendo. Cenas que reproduzem vislumbres do crime sendo cometido, e aí está o porquê da censura consideravelmente alta. Não é sexo, terror ou sangue. É uma violência que causa ódio, nojo, repugna. São cenas fortes as da moça sendo estuprada, e a pior, a mais intensa, Liliana nua, morta, cheia de hematomas pelo corpo fantasmagórico e cruelmente parada, com os belos olhos abertos mas apagados. Quase desisti de assistir ao filme por esse momento singularmente triste. Contudo, felizmente, tive vontade e intelecto equilibrados para continuar a acompanhá-lo. Envolvi-me e deixei essa intensidade típica de Campanella fixar-se em mim.
Após o assassinato da moça, a história tira o ar do espectador. Conhecemos Ricardo, o marido que não se conforma, que não aceita ter perdido tão prematuramente sua amada e, Benjamin, tocado com a força do sentimento do homem, promete a ele que descobrirá quem foi o assassino.
“Devia ver os olhos dele. Estão sempre num estado de puro amor.”
E o protagonista realmente luta por esse caso, que quase foi fechado ao ato de um dos trabalhadores do Tribunal antipático a ele, por ter este acusado dois pedreiros que trabalhavam nas redondezas da vila de Liliana. Benjamin tem raiva, vai até os homens e sabe, simplesmente sabe pela inocência e confusão de ambos que não podem ser, não são os assassinos da mulher. Obcecado e contando com a ajuda do fiel, beberrão e incrível (ênfase no incrível) amigo Sandoval e da forte, determinada e apaixonante Irene, vai a fundo com o caso, até o dia em que, observando alguns álbuns de Ricardo Morales com fotos da esposa, surpreende-se ao descobrir uma pessoa que pode ser a chave de todo o crime.
O que dizer... Tudo no filme é lírico. O sentimento pulsa, atravessa as telas e toca o mais íntimo de cada um de nós. É bonito, é angustiante acompanhar o amor platônico e intocável que Benjamin sente por Irene. Os momentos entre os dois sempre são completos, as cenas falam por si. E não há toda aquela ansiedade, é uma paixão sem pressa, é duradoura e imutável. Ele, que desde o primeiro instante, encantou-se com a mulher. Eles, que estiveram tão perto e tão distantes um do outro em todos os anos que se passaram. Benjamin, um homem agora solitário, após 20 anos entre casamentos e casos mal sucedidos. Irene, uma mãe de família, esposa e que alega não ser capaz de olhar para trás. Os mesmos olhares transpassados, agora saudosos, nostálgicos que dizem tantas coisas...
Interação envolvente entre Ricardo Darín e Soledad Villamil |
“Quando você vê o cara olhando para aquela mulher com adoração... Os olhos... Falam. Deveriam se calar às vezes.”
Também não faltam diálogos bem-humorados entre o protagonista e Sandoval, que é um amigo de ouro. O ator foi simplesmente excepcional na cena em que eles estão no bar e que, em uma linha muito sutil de pensamentos, descreveu algo que ajudaria tanto nas investigações...
“As pessoas podem mudar tudo, mas tem uma coisa que não podem mudar. Nem ele, nem eu, nem você, nem ninguém. A sua paixão.”
Entre as sequências mais emocionantes, a perseguição no estádio de futebol foi arrebatadora. Incrível! Leva o espectador ao delírio, literalmente. Não posso deixar de citar a importância que a máquina de escrever com a letra a defeituosa tem. Acreditem, a letra da inicial do meu nome (Oi, Ana!) vai mudar todo o curso do filme. Tudo muito rico em detalhes, desde os diálogos às partes técnicas. Destaque para a fotografia e a originalidade. Além disso, o filme faz uma abordagem política, o porquê de tanto tempo ter se transcorrido, o porquê de Benjamin ter partido no passado. Uma Argentina envenenada de corrupção, uma Justiça que não faz justiça e uma ótima história acompanhando todo esse percurso, afetada, inclusive, por ele.
O Segredo dos Seus Olhos, com todo o seu ar sentimental e inebriante de paixões, olhares e minúcias, surpreende grandemente o leitor. É conduzido com muita maestria a um desfecho não cheio de reviravoltas, mas excepcional. A prova de que, em quesito de cinema, pelo menos, nuestros hermanitos dão um banho em nós. Não é nenhum problema com o cinema brasileiro, que tem até melhorado ultimamente. É um problema mesmo com tanta apologia ao que temos de ruim, à criminalidade, à banalização. É a falta de lirismo, de emoção. O filme argentino em questão, só para constar, desbancou o nosso Salve Geral na premiação do Oscar, e para quem assistir a ele, não será tão complicado de entender a razão.
Assistam ao trailer!
E para aqueles que tiverem curiosidade de ler o livro, recentemente, a Editora Suma das Letras publicou a tradução da obra de Sacheri, a qual o filme foi baseado e que, anteriormente citei, não alcançou o mesmo grau de êxito que o filme.
Espero que gostem da indicação!
8 comentários:
Olá, Ana!!
Deve ser mesmo imperdível assistir este filme. Acho lindo histórias de amor assim que emocionem e sejam repleto de sentimentos. Quero muito assistir e se possível conferir o livro que falou também.
Adorei a sua resenha!
Bjos.
Mariana Ribeiro
Confissões Literárias.
Excelente diga, anotadinha...
Beijocas
Josss
http://femininaevaidosa.blogspot.com
@unhappy_
Oi Ana
Caramba adorei a dica, gosto mto de filmes emocionantes, vou fazer questão de assistir!
Beijokas
Livros & Fuxicos
U AL!
Nem sei o que falar Ana...
O filme deve ser super intenso!
Vou ver se assisto neste final de semana sem falta!!
Beeijocas
Rapha ~Doce Encanto
Ei Ana,
Nossa que resenha linda, amei. Eu não conhecia o filme nem o livro, será que o livro é tão bom também?
Ah, adorei seu comentário no blog, obrigada :) Bom nem sempre dá tempo, mas eu tento responder tudo rs.
bjoo
Hey (:
Adorei a resenha, ficou muito boa. Não sabia que tinha filme do livro, ou livro do filme, enfim q UAHSAUHSAUS parece ser bem bacana.
Beijos, Vanessa.
This Adorable Thing
anotado...boa pedida pro fim de semana e a dois...rsrsrsrsrs...beijinhos meninas e bom fim de semana!! ♥
mais uma resenha divinamente escrita.
Não tinha ouvido falar deste filme, mas fiquei com muita, muita vontade de assistir.
Também concordo com a sua crítica ao cinema nacional.
Também gostaria de ver mais paixão, mais emoção, menos xingamentos e violência.
Parabéns.
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