13 março 2012

Looking for Alaska, de John Green

Resenha da semana é uma coluna na qual Ana dá sua opinião a respeito do livro lido no momento, com direito a trechos e informações completas sobre a obra e o autor. Postada aos sábados (sujeita a alterações).
Título original: Looking for Alaska
Título no Brasil: Quem é você, Alasca?
Autor: John Green
Editora: Harper Collins
Número de páginas: 272
ISBN: 9780007209255
Edição: 2010
Gênero: YA book (Infanto-juvenil)
"Quando os adultos dizem ‘Os adolescentes se acham invencíveis’, com aquele sorriso malicioso e idiota estampado na cara, eles não sabem o quanto estão certos. Não devemos perder a esperança, pois jamais seremos irremediavelmente feridos. Pensamos que somos invencíveis porque realmente somos. Não nascemos, nem morremos. Como toda energia, simplesmente mudamos de forma, de tamanho e de manifestação. Os adultos se esquecem disso quando envelhecem. Ficam com medo de perder e de fracassar. Mas essa parte que é maior que a soma das partes não tem começo nem fim, e, portanto, não pode falhar.”
Há um certo grupo de leitores que não pode ouvir a respeito de algum frisson literário, alguma moda que surge no circuito da arte das letras para logo desenvolver um preconceito por ela simplesmente por sua fama. Bem ou mal, não integro essa categoria. Quero conhecer aquilo que todos estão lendo e poder definir assim, através de meu próprio veredicto, se realmente trata-se de algo de qualidade ou apenas mais uma mania passageira de quem lê. Foi assim com John Green e, especialmente, com Looking for Alaska, que se popularizou no território brasileiro pela tradução publicada pela Editora Martins Fontes recentemente, Quem É Você, Alasca?

Disposta a ler algo diferente e a sair de minha zona de conforto das leituras recentes, andei vasculhando alguns e-books que me interessavam até encontrar o famigerado livro em sua versão inglesa, o que foi por si só mais um estímulo para que eu seguisse adiante, tendo em vista que além de um entretenimento, também tratava-se de um auxílio para meus estudos da língua. E de longe posso dizer que fiz a escolha certa.

Logo ao início, somos apresentados, e por que não dizer recepcionados pelas palavras muito simpáticas do autor, dono de uma escrita totalmente contemporânea, descompromissada e inteligente. Cada único parágrafo desde as dedicatórias é recheado de uma criatividade toda jovial que conquista o leitor mais desavisado e se mostra como a grande estrela de John Green, capaz de e responsável por lhe render tantos elogios.

A história aqui gira em torno de Miles Halter, um adolescente tipicamente nerd, apaixonado por célebres últimas palavras, as que dizemos antes da temida partida, de grandes personalidades. Cansado de sua vida comum em uma escola na qual nem sequer tem amigos e decidido a partir em busca do Grande Talvez (The Great Perhaps) abordado pelo poeta François Rabelais anteriormente à sua morte, vai estudar no internato de Culver Creek, Alabama, aonde uma verdadeira redescoberta da adolescência o aguarda, juntamente de amigos verdadeiros, aventuras e uma Alasca cheia de mistérios, inteligência e sensualidade que prometem deixá-lo genuinamente desvairado.

Li resenhas e resenhas de Quem é Você, Alasca?, mas juro que nenhuma delas havia me passado uma noção tão real de quem é Miles Halter e do que ele estava prestes a viver. Não sei se pela própria sinopse ou se por algo que coloquei em minha cabeça, esperava de John Green algo mais nerd e intelectual, com várias referências a ficção científica e super heróis da Marvel, algo como O Guia do Mochileiro das Galáxias, por exemplo. Foi uma grata surpresa, entretanto, ver que tratava-se de algo totalmente diferente. Com uma "sacada" bem mais madura, a juventude de Green é mostrada sem grandes acréscimos ou subtrações. São adolescentes normais, cheios de sonhos e expectativas, desejosos de viver tudo sob os efeitos da adrenalina e do perigo, completamente inconstantes e intensos, curiosos para descobrir e viver o sexo com ou sem amor, loucos para ficarem bêbados enquanto fumam seus cigarros Malboro escondidos dos olhares vigilantes. Também são extremamente inteligentes, fora da média nacional e ambicionam todo um mundo para si.

A temática não abrange muito mais que estas poucas linhas de resumo, pois a real consistência da matéria de Looking for Alaska está nas personagens fantásticas que compõem a trama. Miles, que logo recebe o apelido de Pudge (na versão inglesa) entre os outros estudantes, é um protagonista divertido, com altas doses de sarcasmo e intelectualidade, fã de biografias, embriagado com a possibilidade de correr seus próprios riscos e vivenciar loucuras longe dos olhos dos pais. O primeiro amigo e colega de quarto, Chip, o Coronel, é um nobre defensor de causas sociais e têm verdadeiro desprezo aos alunos mais ricos que tanto exibem seu luxo enquanto que sua mãe, residente de um trailer, tanto batalha para que o filho possa estudar em um internato de qualidade estudantil tão alta. Mostra-se sempre muito corajoso e leal, disposto a feitos de honra em nome da amizade. E daí vem Alaska ou Alasca, que é por si só uma interrogação ambulante, uma apaixonada por livros e por García Márquez que fala com paixão das coisas e constantemente sofre alterações bruscas em seu temperamento. Uma adolescente que fuma para morrer e bebe de maneira insana, com opiniões fortes sobre a vida e uma lascívia perigosa, irresistível a Miles, que logo se apaixona, ainda que a moça tenha um namorado e alegue todo o tempo amá-lo.

O livro é dividido em duas partes: o Antes e o Depois. Ambas as partes dividem-se em capítulos que levam uma contagem de dias. A primeira, Antes, narra a história até o fatídico acontecimento que divide Looking for Alaska. A segunda, Depois, mostra os reflexos dos fatos na vida das personagens e também tem em si, mais incrível pareça, um caráter filosófico muito forte que contesta e tenta responder os grandes mistérios de nossa caminhada, definida como um labirinto com analogias muito interessantes e maduras embutidas no contexto para um livro voltado ao público juvenil.
You spend your whole life stuck in the labyrinth, thinking about how you'll escape it one day, and how awesome it will be and imagining that future keeps you going, but you never do it. You just use the future to escape the present."
Quando dizem que John Green vem conquistando seu lugar de maneira honrosa na Literatura Contemporânea, não posso discordar mais, afinal. Looking for Alaska é uma grata surpresa e pode até vir a ser impactante para aqueles que aguardam por um juvenil mais leve, com romances comuns, como é de praxe no gênero. Mas desde a primeira página, em cada detalhe, logo percebemos não se tratar, em coisa alguma, de algo comum. A obra do autor em questão é extremamente madura e jovem, contemporânea, um reflexo fiel dos anseios de toda uma geração que como todos em sua idade já o fizeram, tenta viver suas emoções à flor da pele.

Uma mistura que une humor, intelectualidade e drama em 242 páginas e que, pelo menos comigo, surtiu agradáveis efeitos.
Because you simply cannot draw these things out forever. At some point, you just pull-off the Band-aid and it hurts, but then it's over and you're relieved."
Avaliação Geral:
Nota 4 de 5 (Muito Bom)

Uma boa terça-feira a todos!


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