12 maio 2012

A (sombria) realidade por detrás dos contos de fadas


Quando pequenos, temos uma imaginação muito fértil que é constantemente adubada com versões de histórias deslumbrantes, possibilitadoras do conhecimento de novos mundos, da repentina existência de criaturas inconcebíveis, amores impossíveis e sonhos visionários. Em sua maioria, essas histórias compõem o seleto grupo dos contos de fadas, popularizados pelas mãos de Jacob e Whilhelm, os famigerados Irmãos Grimm.

O que muita gente não sabe, entretanto, é que nem sempre as versões infantis que os adultos nos contaram eram as mais próximas da realidade, parcialmente reproduzida pelos autores. Muito pelo contrário, histórias, como as de Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e A Bela e a Fera, por exemplo, podem ter surgido em tempos remotíssimos, na própria Idade Média ou ainda mais longe, antes de Cristo, com a missão não de entreter seus ouvintes, mas de alertá-los sobre os perigos de algumas situações, denegrindo a imagem da mulher e suas virtudes, tornando-a, em sua visão, um ser ignorante e facilmente corruptível. Além disso, deve-se destacar que para cada história, há dezenas outras versões ao redor de todo o mundo, que podem ser mais ou menos ingênuas, como a infância pede.

As versões que o leitor encontrará abaixo ainda mexem com a cabeça dos estudiosos e podem assumir inúmeras interpretações. A realidade por detrás dos contos de fadas é muito estudada, por exemplo, por alunos do curso de Psicologia ou de Pedagogia, tendo em vista a sua importância em ambos os meios.

O Flautista de Hamelin: de homem lesado a serial-killer, possível metáfora da peste negra, símbolo da migração europeia ou pedófilo.
Na versão de contos de fadas, conhecemos a história de um flautista que chega ao vilarejo de Hamelin alegando ter a solução para o problema de seus moradores, que sofrem com a infestação de ratos. Prometem ao homem um pagamento depois que o fizer, e assim ele atrai os roedores com a música de sua flauta até o rio do local, no qual morrem afogados, contudo não recebe o prometido no combinado. Como vingança, volta à cidade e toca a flauta para as crianças, desta vez, levando-as até uma caverna e prometendo não devolvê-las até que receba o pagamento. Angustiados, os moradores concordam e os pimpolhos são libertados.
Na versão original, a história é praticamente a mesma, à exceção do fato de que as crianças nunca são devolvidas às suas famílias. A versão mais antiga data da Idade Média, acerca do atual território alemão, conta que as crianças morrem afogadas no mesmo rio dos roedores, o que leva alguns a crer que o Flautista seja um serial-killer, ou até mesmo uma alegoria da peste negra, que dizimou a população mundial na época em massa. Em outra versão ainda mais macabra, acredita-se que as crianças tenham sido levadas até uma caverna e abusadas dentro dela.

A Bela Adormecida: de princesa feliz para sempre a vítima de estupro e mãe de gêmeos
Na versão de contos de fadas: Aurora é uma bela jovem sobre a qual, na data de seu nascimento, abateu-se uma maldição de uma terrível bruxa de que no dia em que completasse 16 anos, um acidente faria com que dormisse por toda a eternidade, reversível apenas pelo beijo de seu verdadeiro amor. A moça fura seu dedo numa roca enfeitiçada e perece, até o dia em que um príncipe corajoso e apaixonado lhe beija, ela acorda e os dois vivem felizes para sempre.
Na versão real: Aurora, na verdade é Tália, também amaldiçoada, espeta seu dedo na roca e dorme, mas em vez de receber a visita do príncipe, é estuprada por um rei, que lhe engravida de gêmeos. Após o nascimento dos filhos, a moça ainda dorme, sendo despertada apenas por um deles, que chupa acidentalmente de seu dedo a farpa que lhe deixou em coma. Ao final, a moça acaba tornando-se amante do cruel rei. Esta versão foi escrita por Giambattista Brasile, no século XVII.

Hércules: de pródigo herói a homem solitário decaído
Na versão de contos de fadas: Apesar de Hércules não ser propriamente um conto de fadas, os estúdios Disney criaram uma história com a qual todos nos divertimos, cheias de heroísmos e sonhos tipicamente infantis. Nessa versão, o herói é filho de Zeus e Hera. Algum tempo depois, é raptado por Hades, que lhe tira a imortalidade divina, tornando-o um semideus. Ao crescer num vilarejo na Terra, conhece Mégara e se apaixona. Juntamente dela, após vários trabalhos e aventuras, derrota os Titãs e volta ao Olimpo.
Na versão real: Aqui, Hércules é filho de Zeus e uma humana chamada Alcmena, o que o torna, na realidade, um semideus. A deusa Hera, então, enfurecida com a traição de Zeus, passa a amaldiçoar a vida de Hércules com suas crueldades, obrigando-o até a matar a família (Mégara e 3 filhos), tornando-o um homem cheio decaído, cheio de remorsos, que executa os doze trabalhos e, só depois de velho, ascende ao Olimpo com a aceitação de Zeus, piedoso da tristeza do filho.

A Princesa e o Sapo: de libertação por um beijo de amor a violência e indiferença
Na versão de conto de fadas: A bela princesa estava a brincar nas proximidades do castelo com sua bola de ouro quando esta, acidentalmente, cai no riacho. De lá, ela escuta a voz de alguém chamando-lhe para ajudá-la e descobre tratar-se de um sapo. Apesar da repugnância que sente no começo, concorda em ficar ao seu lado e, ao final, acaba libertando-o da maldição que lhe foi lançada por uma bruxa com um beijo que o transforma em príncipe.
Na versão real: Novamente as histórias são bastante semelhantes, à exceção do final no qual, em vez de um beijo, a mimada princesa atira o sapo nojento à parede, o que o torna um príncipe, como diz a lenda.

Branca de Neve: de simples lição de moral à Rainha a tortura
Na versão de conto de fadas: Branca de Neve é eleita pelo Espelho Mágico da Rainha como a moça mais bela do reino, um título que sempre coube à monarca até o seu nascimento. Consumida pela raiva e pela inveja, a Rainha manda o caçador ir atrás da menina e pede que tire-lhe o coração. Ao final, o homem lhe leva um coração de porco e Branca de Neve é despertada pelo beijo apaixonado do príncipe encantado.
Na versão real: Novamente o espelho é o causador da discórdia mas, dessa vez, acredita-se que a Rainha seja a verdadeira mãe da menina Branca de Neve e, cheia de inveja, pede que lhe arranquem os pulmões e o fígado para que os jante. Também aqui a busca é mal-sucedida e a mulher leva como castigo dançar até a morte usando sapatos de pedra sobre brasa quente. Já Branca de Neve, em vez de ser despertada pelo beijo do amor, acorda com o sacolejar do cavalo do príncipe, que a queria para fins mais promíscuos, digamos.

A Bela e a Fera: de amor imaculado à sedução da virginal Bela
Na versão de conto de fadas: Bela é uma moça apaixonada por livros, que mora em um vilarejo francês ao lado de seu pai idoso e, por uma troca, em nome de um erro cometido por ele, vai morar no palácio da Fera, onde passa a conviver com o monstro e descobre um lado puro seu, cheio de amor e de compaixão, pelo qual acaba se apaixonando, libertando, na realidade, um príncipe de uma maldição.
Na versão real: Com os mesmos fins, Bela vai viver no palácio e acaba sendo seduzida pela Fera, que assume a aparência da serpente como punição pela corrupção das virtudes da moça. Pedófilo confesso, ao final, ele é perdoado pela jovem. Acredita-se ainda, que a rosa que perde suas pétalas seja o próprio símbolo da virgindade de Bela, destruído, ao final.

João e Maria: de bruxa a demônio
Na versão de conto de fadas: Enquanto passeiam pela floresta, João e Maria se perdem até encontrar, no coração do loca, uma casa feita de doces e guloseimas que os faz ir até ela, quando descobrem que sua dona é uma bruxa e tem como intenção assá-los num forno para usá-los como refeição. Ao estarem prestes a ir para o caldeirão, acabam enganando a mulher e empurrando-a para o lugar.
Na versão real: Acredita-se, em algumas histórias que, em vez de uma bruxa, o dono da casa fosse um demônio, que tenta levá-los para a guilhotina com a ajuda de sua mulher, mas são novamente enganados e, dessa vez, as crianças fogem tendo saqueado a casa. Em outros casos, a tradição da bruxa se mantém e ela consegue colocar as crianças no caldeirão, como tantas outros, praticando canibalismo. Era uma história usada de aviso às crianças na Idade Média para manterem-se afastadas de lugares desconhecidos.

A Pequena Sereia: da transformação em humana e do casamento feliz à rejeição e à morte
Na versão de conto de fadas: Ariel, uma sereia filha de um importante rei dos mares, apaixona-se por Eric, um rapaz humano com o qual é praticamente impossível viver um romance. Mas em nome de seu enorme amor, a moça consegue tornar-se humana para que os dois se casem e tenham uma bela festa com a presença de todos, inclusive seus amigos do mar. O filme da Disney tem, inclusive, uma continuação na qual a filha do casal é protagonista.
Na versão real: Na história original de Hans Christian Andersen, a vida de Ariel é uma grande tragédia. Apaixonada por Eric, não consegue tornar-se uma humana, tem a língua mutilada pela Bruxa do Mar, Úrsula, e tenta diversas vezes cortar a própria cauda para ganhar pernas, o que apenas lhe causa mais dor e a conduz ao suicídio.

Cinderela: de vítima a oportunista
Na versão de conto de fadas: Aqui a Gata Borralheira sofre nas mãos da cruel madrasta e de suas duas filhas, que insistem em atormentá-la terminantemente, até o dia em que o príncipe se apaixona pela moça e a torna sua princesa, fazendo com que suas antigas patroas tornem-se suas empregadas.
Na versão real: Em sua versão mais popular, diz-se que Cinderela, cansada das insistências da madrasta, tenha tentado planejar a morte da mesma, trancando-a num baú num momento oportuno de descontração. No conto dos Irmãos Grimm, em contrapartida, foram pássaros que comeram seus olhos e as duas filhas, loucas para casar com o príncipe, praticaram mutilação nos calcanhares e dedos para que o sapatinho de cristal lhes coubesse.

Chapeuzinho Vermelho: de finais felizes e ingênuos a canibalismo e erotismo
Na versão de conto de fadas: Chapeuzinho vai levar doces na cesta para a vovozinha e é surpreendida, lá, pelo Lobo Mau, que acaba sendo morto pelo caçador, grande salvador da menina.
Na versão real: A história de Chapeuzinho Vermelha foi criada, novamente, com o intuito de alertar as pessoas a não se comunicarem com estranhos e, nela, a menina é devorada pelo Lobo ao final, que antes de fazê-lo, pede que ela se dispa e deite-se ao seu lado, um ponto totalmente erótico da história.

Fontes:
HowStuffWorks
Acidez Mental
Espaço Infantil

Um tanto quanto chocante, mas não tão mágico como antes...

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