Não pude postar ontem, mas hoje estou aqui e venho informar-lhes que, nesta semana vocês verão algumas (muitas) mudanças. Acredito que para melhor.
Hoje, iniciamos com o conto da semana! Uma boa leitura a todos!
Um Classificado por Acaso
Um par de cansados olhos atentos ao relógio. Seis horas e cinquenta e cinco minutos. Estava quase na hora de a banca da rua abrir, hora de comprar seu jornal de classificados. Sempre os tais classificados.
Beberica sem muita vontade o café amargo da xícara já lascada e encara o vazio. É um homem só. Aos trinta e oito anos não está casado, não tem filhos, não tem namorada... A família está longe, moram em Manaus enquanto ele assiste na metrópole paulistana. Trabalha como tradutor de livros. É homem letrado, poliglota porém pobre. Bom seria se seu conhecimento rendesse-lhe lucros à altura. Este homem, entretanto, está conformado com a falta de oportunidades que a vida lhe deu. Não crê em azar.
Põe a xícara de café na pia e abre mecanicamente a torneira para que a água jorre no orifício antigo, a fim de evitar que o pouco açúcar restante nele permaneça. Sabe como é chato lavar xícaras com açúcar grudado. Não tem empregada, diarista ou seja lá como chamem. Bom seria se tivesse, gostaria de poder conversar com alguém, não se importa realmente em fazer os trabalhos de limpeza ele mesmo, o apartamento é minúsculo, mal se pode andar.
Seis horas e cinquenta e oito minutos. Vai até a porta, pega as chaves penduradas nela e a destranca. Aperta o botão sujo e usado para chamar o elevador enquanto certifica-se de que está tudo em ordem em sua moradia. Tranca a porta quando ouve um leve sonido, abrem-se as portas do velho elevador. Entra neste e aguarda silenciosamente até a chegada ao térreo. Passa pela portaria e dá um leve aceno ao porteiro. "Bom dia!". A banca de seus classificados encontra-se logo na esquina.
Os ponteiros marcam sete horas em ponto. Lá está o árabe abrindo sua banca com a mão direita e empunhando a garrafa térmica com chá preto na esquerda. O solitário homem vai ajudá-lo a levantar a portinhola de ferro. O árabe agradece, dá um tímido "bom dia" em sua língua natal, compreensível aos ouvidos do poliglota, todavia não fala muito, sabe como é calado o seu cliente de todas as manhãs.
Os classificados, como sempre, repousam no balcão de pagamento. Silenciosamente - como tudo o que faz - deixa a quantia de quatro reais e trinta centavos na mesma superfície e corre os já hábeis olhos pelas tão conhecidas páginas de compras, vendas, trocas e procuras em busca daquilo que até então não encontrou.
São móveis antigos, eletrônicos usados, bicicletas, sapatos de grifes, brinquedos e CDs de vinil até carros, barcos, casas... Dos classificados materiais aos serviços: professores particulares, engenheiros, técnicos de informática, dentistas, enfermeiros, prostitutas, detetives, ciganas e todo outro tipo de coisa que se possa imaginar.
Parecia que naquelas páginas havia algo perfeito, certo para cada um de seus leitores. As mães que não tinham um salário muito alto poderiam comprar um brinquedo de segunda mão para o aniversário do filho caçula, os colecionadores encontrariam uma antiga peça asiática que faltava em seu relicário, os recém-casados poderiam alugar uma casa mobiliada a um custo baixo, o vestibulando garantiria sua vaga na universidade pública com o auxílio do professor particular de Física, a mulher desconfiada de traição colocaria um detetive atrás do marido, o homem mal-amado e sozinho buscaria aconchego entre os seios de uma prostituta, e assim todos eles estariam realizados com sua busca, que não teria sido em vão. Chateia àquele solitário homem sua diária frustração, sua desesperada procura que em nada resulta, suas matinais idas à banca das desilusões.
Cabisbaixo, com os classificados na mão, já tendo lido tudo e nada encontrado, ele se dirige ao seu prédio quando é parado por uma mulher jovem, com um semblante tranquilo que, assim como ele, vai todos os dias logo cedo à banca do árabe buscar seu jornal.
- Espere. - Ela pede e encara seu olhar surpreendido. Como são sagazes os negros olhos daquela mulher, ele nota.
- Sim?
- Estava procurando por isto?
A mulher tem nas mãos o mesmo jornal de classificados que o homem. Mas ele, por algum motivo desconhecido, aceita o objeto e corre novamente os olhos por este enquanto ouve sapatos de salto fino tocarem os paralelepípedos da calçada delicadamente, distanciando-se.
As mesmas palavras, as mesmas ofertas, as mesmas esperanças esvaindo-se. Uma surpresa, entretanto. No rodapé da página, escrito à caneta em uma elegante caligrafia, há um anúncio distinto de todos que já leu. "Procura-se alguém com quem conversar. Tratar com a mulher que acaba de cruzar a esquina com seus sapatos de salto fino e que deixou estes classificados para um então triste estranho que apenas esteve buscando pelos anúncios errados."
Alguns metros à frente, em uma esquina que nunca lhe pareceu tão atraente, a senhorita de semblante tranquilo e caligrafia elegante o aguardava com um sorriso encorajador. Ele apenas tira do bolso uma caneta vermelha e faz um círculo no anúncio que acaba de ler. O anúncio certo. Está radiante, realizado, pois sabe que desta vez encontrou o que por tantas vezes procurara.
6 comentários:
Acho que esse foi o seu melhor conto!!!!
Foi muito bem escrito e a ideia foi diferente de tudo que já li.
Realmente gostei muito xD
Imagino a felicidade dele ao ler o que a mulher escreveu... Você está de parabéns!!!!!!1
Simplesmente perfeito esse conto, sério mesmo. Amei amei amei *_*
E sobre o contato que vc mandou, da menina que pediu ajuda para o Tom Cruise... claro que aceitaria ajudar, pq não né?! Além disso, vai ser ótimo saber que estou ajudando alguém.
Se quiser posso até fazer uma postagem sobre.
Você que manda, rs!
Parabéns mais uma vez pelo conto maravilhos, cheguei até ficar arrepiada, hahahaha
Hello!!! agradeço seu carinho ja estou te segundo e sempre q quiser meu blog estara la com novidades do mundo japones kiss bye-bye
http://harahaira.blogspot.com
oi fofa, que tal passar lá no www.haveglam.wordpress.com e comentar? se gostar para se manter atualizada é só seguir @ribeirocecilia no twitter
Hey (:
aaah, adorei o conto. Amei, amei! Parabéns.
Beijos, Vanessa.
This Adorable Thing
Nossa Ana, vc escreve muito bem. Podia ter conto todos os dias ein, kkk
eu adorei mesmo.
quem é sua inspiração?
Texto muito bom mesmo, nível de profissional! =D
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