Após o Blogger ter saído de ar ontem, tive que passar a postagem para hoje, chateadíssima por ter perdido comentários e atualizações que tinha feito. Uma tremenda palhaçada...
Laços de Família, Clarice Lispector
Editora Rocco
135 páginas
Laços de Família, publicado pela primeira vez em 1960, é um tesouro da ourivesaria literária. São treze contos, hoje tidos como clássicos. Entre eles, os festejadíssimos "Amor", "O crime do professor de Matemática", "O búfalo" e "Feliz aniversário", adaptado para a televisão por Ziembinsky. Neles s personagens são sempre surpreendidos por uma modalidade perturbadora do insólito, no meio da banalidade de seus cotidianos. Clarice cria situações onde uma revelação, que desconstrói e ameaça a realidade, desvela a existência e aponta para uma apreensão filosófica da vida. Em Laços de família, Clarice aprofunda sua técnica narrativa em uma abordagem quase fenomenológica. Trata da solidão, a morte, a incomunicabilidade e os abismos da existência através da rotina de dona-de-casa, do mergulho trágico em uma festa familiar nos 89 anos da matriarca, da domesticação da natureza mais selvagem das mulheres, ou dos pequenos crimes cometidos contra a consciência, contra o drama do professor de Matemática diante do abandono e da sacerdotisa da nossa literatura. Apenas acabo de ler Laços de Família e digamos que ainda esteja absorvendo a leitura, muito confusa, diga-se de passagem.
Não é o primeiro título que leio de Clarice. Já até indiquei aqui no blog a seleção também da Editora Rocco, De Amor e Amizade - Contos e Crônicas para Jovens , a qual fiz, inclusive, boas alusões, verdadeiros elogios. Entretanto, ao que parece, tive hoje, ao final desta leitura, a minha segunda decepção com Clarice. E foi das grandes.
Nunca citei aqui o contato que tive com Pulsações – Um Sopro de Vida, pois abandonei-o pela falta de estímulo. Compreendam-me os que não leram livros da autora e até os que leram e apreciam-nos: Clarice é complicada. Simplesmente complicada, beirando à chatice, honestamente falando, e não é por falta de compreensão.
Laços de Família é uma antologia de contos em relação aos problemas familiares, uma antítese com o título que, na verdade, desprendem os tais laços. São 13 textos e destes 13, eu levo comigo apenas 5, o que é um número consideravelmente insatisfatório em relação às obras cansativas, cheias de mensagens incompreensíveis nas entrelinhas.
Há de tudo no universo familiar: mulheres loucas - perdoem-me o vocábulo, mas uma mulher que sente nojo de amar e compara isso a uma aranha que tece sua teia no Jardim Botânico é, pelo menos, louca -, homens cismados, crianças astutas, velhos revoltados e todo o tipo de personagens no mínimo estranhas.
A escrita da autora é extremamente psicológica, ela penetra no íntimo de cada protagonista seu e confunde-nos em meio à rede de pensamentos humanos. Quero dizer, não há problema algum em ressaltar toda a frenética idealização que se passa em nossas mentes, muito pelo contrário, torna a obra mais interessante, profissional. Todas as obras de Machado de Assis do período Realista (o que consagrou o autor), por exemplo, possuem um afloramento emocional muito forte, descrições ímpares de cada ser. Somos arrebatados pelos olhos oblíquos, pelos ciúmes, pelas memórias póstumas e, nem por isso, prolongamos uma leitura curta que acaba tornando-se massante e muito mais longa do que era de se esperar. Discordo completamente dos que neste momento e em outrora disseram que esta é a riqueza do texto de Clarice. Porque não é!
Muitos valorizam a simplicidade do texto. Confesso que não sou tão amante de tal característica. Aprecio o engajamento do escritor, a estética, a condução de uma obra densa, mas que flui naturalmente. E isso, peço desculpas aos fãs ou aos que acham que são fãs, esse sentimento real e pulsante, falta na autora que considerou-se – agora compreendo – uma pergunta. Indecifrável para mim.
“Ela amava o mundo, amava o que fora criado – amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a.”
O trecho acima, para bom entendedor, basta toda a minha resenha.
Nota: 2 - Regular (de 5)
Contos dos quais gostei: Feliz Aniversário; Preciosidade; Os Laços de Família, Começos de uma Fortuna; Mistério em São Cristóvão.