28 julho 2012

Um Conto de Fadas em Manhattan, de Elisa Puricelli Guerra

É admirável o quanto o mercado editorial tem crescido recentemente, trazendo consigo uma diversidade de gêneros que alegra desde os mais velhos até os mais jovens. Dentre estes, é inevitável não citar a quantidade enorme de juvenis e infanto-juvenis que surgem abundantemente nas prateleiras de livrarias com promessas de histórias fantásticas para trazer mais cultura e entretenimento a jovens e crianças. 

Um Conto de Fadas em Manhattan pode, com sua narrativa leve e letras grandes, compor facilmente esta categoria construtivista de novos leitores através da voz de sua protagonista à beira da pré-adolescência e da busca por sua verdadeira identidade, Olivia Shy. 

Olivia vive em um suntuoso bairro de Manhattan e é herdeira de dois verdadeiros impérios. Seus pais, contudo, nunca têm tempo para lhe dar atenção por conta de seus badalados empregos, sendo a mãe dona de uma próspera empresa de tortas preparadas em menos de quatro minutos no micro-ondas, a Tortas Instantâneas Swollenpie e o pai, da Espessantes Mirabolantes, o principal ingrediente das tortas. Desta maneira, em decorrência da agitada vida nova iorquina, um quadro de atividades foi designado pelos pais à filha, que não deve ficar em casa vendo o tempo passar, mas sempre fora com o auxílio de seu fiel taxista, Aladin, em aulas de desenho, esportes, idiomas e violino. Ao final destas atividades, então, em vez do carinho  parental, resta-lhe apenas o conforto de sua babá, que mais parece uma dessas princesas de filmes, com seus cabelos ondulados e vestidos rodados, para lhe oferecer balinhas de morango e um carinho desajeitado.

Apesar de não ser dona de uma das vidas mais felizes do mundo, Olivia carrega seus problemas solitariamente, pois também lhe faltam amigos, até o instante em que um mistério surge em sua vida, quando todas as roupas de seu armário somem e ela as descobre em meio a uma pilha de colchões no quarto da babá, Arabella. Por esse fato aparentemente simples, todas as suas convicções começam a cair por terra quando lhe revelam que a moça dos vestidos rodados é, de fato, uma princesa e que, como ela, há milhares de outras criaturas mágicas de contos de fadas, vivendo não somente em Manhattan, mas em todo o mundo. São príncipes encantados, bruxas, meias-irmãs, reis, rainhas, fadas, ogros, anões, duendes, elfos e tudo o mais que se possa esperar, cada um dotado de um poder cedido por sua fada madrinha ao nascimento, um poder que Olivia sente a necessidade de descobrir, agora que sabe que é especial. Encontrá-lo, no entanto, não será das tarefas mais fáceis, uma vez que seu registro encontra-se no Grande Livro dos Nomes e dos Dons, roubado de uma das bibliotecas mais seguras de Nova York por um mago poderoso que ela terá de perseguir com o auxílio de  dois novos amigos até que seja tarde demais.

Antes de iniciar a leitura, tendo em vista o número de páginas (em torno de 300) não tão pequeno e a sinopse não tão sugestiva - ou talvez tenha sido desatenção de minha parte -, imaginei que a história de Um Conto de Fadas em Manhattan tivesse um apelo mais juvenil e também romântico. Logo ao abrir o livro e começar a lê-lo, entretanto, foi fácil concluir que tinha em minhas mãos um típico infanto-juvenil, com uma história inocente, meiga, letras grandes, espaçamento largo e uma boa quantia de desenhos suaves que acompanhavam certas passagens da aventura de Olivia, Orlando e Kelly.

Havia um bom tempo que não lia algo tão leve e apreciei a premissa do livro, em geral, que também contou com diversos exemplos de intertextualidade ao mencionar nomes conhecidos por todos nós da literatura em meio às conversas de Orlando com Olivia, ele um ávido e apaixonado leitor, especialmente admirador dos feitos da Miss Marple de Agatha Christie e do Sherlock Holmes de Conan Doyle. Confesso, entretanto, sem qualquer centelha de ironia, que provavelmente teria gostado ainda mais da história se tivesse os meus 12 anos, o que não é o caso há um bom tempo...

Como pede a ocasião, apesar dos dramas reais de Olivia em meio à irrelevância dos pais e à solidão, as personagens são divertidas e muito puras, sem qualquer maldade ou intenções passionais, mas sempre com aquele ímpeto de amizade incondicional e de apoio para ver a felicidade do outro, o que representa, por si só, uma bela mensagem. Adorei a Olivia meio desajeitada, com um pé maior que o outro e os cabelos ruivos de aparência meio exótica. Compartilhei com Orlando dos diversos devaneios literários e da paixão pelos livros, por todos os tipos possíveis. Simpatizei em demasia com a Kelly corajosa, trajada de preto, de força, de muita conversa e bom coração. Arabella, a babá e princesa, lembrou-me muito da Giselle de Encantada, sempre alheia ao mundo real, sonhando com a chegada de seu príncipe lindo e rico. As outras personagens que integraram o livro, no entanto, pouco me chamaram atenção.

Concluído com uma mensagem benéfica de compreensão e uma ressalva sobre o valor da amizade, é uma leitura recomendada aos mais jovens, em transição para a adolescência, ou simplesmente a quem quiser relembrar um pouco de como é bom crescer ao lado de bons amigos e da eterna esperança de fazer parte de um mundo de conto de fadas em que a crueldade da vida real é apenas um toque de humor e graça às personalidades de seus vilões.
"[...]quando o pai achava que ele estava por aí farejando pistas, ele se sentava num banco do Central Park e mergulhava nas páginas de um livro. Orlando, de fato, era um leitor voraz. Tinha sempre um livro no bolso para ler durante as longas viagens de ônibus ou de metrô pela cidade, ou quando estava sentado num banco do Central Park. A leitura o absorvia tanto que geralmente se sobressaltava e se dava conta, com horror; de que a tarde toda tinha passado [...]"
p. 83 - 84

Informações técnicas
Título: Um Conto de Fadas em Manhattan
Título original: Principesse a Manhattan
Autora: Elisa Puricelli Guerra
Ilustrações de: Sara Not
Tradução de: Aline Leal 
Editora: Galera Record (cortesia)
Número de páginas: 308
ISBN: 978-85-01-08839-0
Gênero: Infanto-juvenil; Literatura italiana

Elisa Puricelli Guerra nasceu em Milão, mas vive a maior parte do tempo em Londres. Passa horas a contemplar o Tamisa ou a passear nos jardins de Kensington, talvez em busca de inspiração para as suas histórias. No entanto, nos tempos livres, trabalha como editora e traduz romances para jovens. Princesas em Manhattan é o seu primeiro livro. 

A propósito, procurando informações da autora, descobri que a história de Olivia terá continuação, sendo provavelmente uma trilogia que ganha apelo mais juvenil conforme a mudança de volume, já publicada em Portugal.



Um bom final de semana a todos!

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