28 abril 2011

Sobre cenários literários... (II)

   Olá blogueiros!
    Continuando a postagem de terça-feira, voltarei a falar dos cenários tão conhecidos nos livros.

Às margens de rios e lagos
   Perto deles estão as florestas, as matas ciliares e toda uma série de fatos ocultos pela profundeza das águas.
    Não costumam ser descritos como o mar. São mais singulares, cenários de momentos importantes que não costumam envolver muitas personagens. A beleza das águas paradas encanta e foi nela que Narciso se perdeu enquanto admirava sua própria imagem refletida.
   “Encontravam-se numa lagoa quieta, de água limpa, azul, protegida do lado de fora por um anel de grandes árvores. A única entrada, a passagem através dos caniços, parecia ter se fechado atrás deles. Poderiam estar sozinhos no mundo.
   Não foi, porém, o segredo do lago que enfeitiçou Maia, mas sua beleza. As árvores protetoras se curvaram por sobre a água; num banco de areia dourada dormia uma tartaruga, sem ser perturbada pelo barco. Grupos de flores de lótus amarelas e cor-de-rosa balançavam na água, os botões abertos ao sol.”
 IBBOTSON, Eva; Jornada pelo Rio Mar p. 90; Editora Rocco


Mundos Encantados
  
   Criar outro mundo completamente à parte da Terra, com nomes, mitologia, história, idioma e lugar próprios não é mérito de um simples autor. Assim como talvez não seja , por exemplo, de um escritor extremamente prestigiado mas que, simplesmente, não é capaz de gerar um universo diferente transmitindo as mesmas emoções humanas.
   Para criar algo do tipo não basta escrever bem e ter vocabulário rico. São necessários tempos e tempos de pesquisa, dedicação e foco no resultado que se pretende obter.
    Na área, impossível não ressaltar o mundo à parte criado por Tolkien em seu maior grau de genialidade, historiador e escritor. O Senhor dos Anéis não é simplesmente a trilogia mais assistida nos cinemas, mas a consagração do gênero mitológico, o pai de todos os fantásticos que conhecemos atualmente.
   J.K. Rowling, a autora da saga mais querida mundialmente e a segunda mulher mais rica da Inglaterra (que perde apenas para a Rainha, é), já afirmou em entrevistas que sua maior inspiração literária para dar vida ao mundo de Harry é, ninguém mais ninguém menos que Tolkien.
   “Os outros se jogaram sobre a relva cheirosa, mas Frodo continuou de pé por uns momentos, ainda pasmo e admirado. Tinha a impressão de ter atravessado uma janela alta que dava para um mundo desaparecido. Havia uma luz sobre esse mundo que não podia ser descrita na língua dele. Tudo o que via parecia harmonioso, mas as formas pareciam novas, como se tivessem sido concebidas e desenhadas no momento em que lhes tiraram a venda dos olhos, e ao mesmo tempo antigas, como se tivessem existido desde sempre. Frodo não viu cores diferentes das que conhecia, dourado e branco e azul e verde, mas eram novas e pungentes, como se naquele mesmo momento as tivesse percebido pela primeira vez, dando-lhes nomes novos e maravilhosos. Naquela região, no inverno, ninguém podia sentir saudade do verão ou da primavera. Não se podia ver qualquer defeito ou doença ou deformidade em cada uma das coisas que cresciam sobre a terra. Não havia manchas na terra de Lórien.”
TOLKIEN, J.R.R.; O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel p. 372; Editora Martins Fontes

Mansões Assombradas
   Impossível ser mais clássico no que se diz respeito a terror sem utilizar-se de mansões assombradas. Nelas, cada autor escolhe, com sua imaginação, as terríveis criaturas e espíritos que vão aterrorizar os moradores.
   Às vezes, o horror é meramente psicológico, mas as descrições não costumam fugir do contexto. São mansões de famílias ricas, com corredores extensos, pisos de madeira soltos que emitem sons, janelas quebradas, ambientes sujos e um eco de arrepiar.
   “Durante todo um dia pesado, escuro e mudo de outono, em que nuvens baixas amontoavam-se opressivamente no céu, eu percorri a cavalo um trecho de campo singularmente triste, e finalmente me encontrei, quando as sombras da noite se avizinhavam, à vista da melancólica Casa de Usher. Não sei como foi – mas, ao primeiro olhar que lancei ao edifício, uma sensação de insuportável angústia invadiu o meu espírito. Digo insuportável, pois tal sensação não foi aliviada por nada desse sentimento quase agradável na sua poesia, com o qual a mente ordinariamente acolhe mesmo as imagens mais cruéis por sua desolação e seu horror. Olhei para a cena que se abria diante de mim – para a casa simples e para a simples paisagem do domínio para as paredes frias – para as janelas paradas como olhos vidrados – para algumas moitas de juncos – e para uns troncos alvacentos de árvores mortas – com uma enorme depressão mental que só posso comparar, com alguma propriedade, com os momentos que se sucedem ao despertar de um fumador de ópio – com o momento amargo de retorno à rotina – com o terrível cair do véu.
   Eu tinha no coração uma invencível tristeza onde nenhum estímulo da Imaginação podia descobrir qualquer coisa de sublime.
  Que era – pensava eu, imóvel – que era isso que tanto me atormentava na contemplação da Casa de Usher?”
 POE, Edgar Allan; A Queda da Casa de Usher 



 
 



3 comentários:

Entre Fatos & Livros disse...

Oi meninas!
Vcs acreditam q eu não li nenhum desses livros que vcs citaram! =O
Mas deu para perceber a beleza dos cenários!

BjoO
Pri
Entre Fatos e Livros

Mariana Ribeiro disse...

Olá, meninas!!
Nossa, vocês tem mesmo razão! São os cenários mais utilizados nos livros. Infelizmente ainda não li nenhum desses que citou, mas fiquei ainda mais curiosa após conferir este post.
Ótima coluna!
Bjos.

Mariana Ribeiro
Confissões Literárias.

Li Um Livro disse...

Adorei esses posts!
A cada cenário citado, foi formando na minha cabeça diversas imagens e lembranças das histórias mais marcantes onde eles estavam presentes. =)
Ainda não li nada da Eva Ibbotson, vou até dar uma procurada aqui.
Tolkien e Poe: gênios da literatura!
Beijos! =)