Da despedida
por Ana Ferreira
Dar adeus a algo de que gostamos torna aquele nosso amor um fardo dolorido, uma saudade que penetra em nosso coração e sufoca, como sufoca essa adoração tão trabalhada, tão cultivada ao decorrer de trajetórias por vezes longas e noutras talvez nem tanto. Alguns dirão que virou moda despedir-se de Harry Potter, aquela palavra horrível no diminutivo que ridiculariza e que me causa verdadeiro desprezo. Modinha. Pois a estes, um tanto insensatos e quem sabe insensíveis, eu digo que estou aderindo à moda. Venho à paisana deste traje que os blogueiros e potterianos estão vestindo. Somos uma geração, afinal.
Ainda me lembro, há cerca de quatro anos atrás ou talvez três – não sei ao certo-, quando meu professor de português no momento contou-me sua relação com livros best-seller. Disse-me que detestava, desprezava e nem sequer dava chance a um livro vencedor de vendas. Achava que as ideias deles eram quase sempre superficiais, com aquela mesma temática batida que arrebatava leitores ao redor de todo o mundo. Uma tática completamente capitalista que seleciona todos os elementos de sucesso estrondoso popularmente e os une num livro “nunca antes visto”, como talvez diria um anúncio em sua capa, um comentário do The Guardian, quem sabe. Os piores viriam com um do The Sun, naturalmente. Meu professor era socialista também, adorador dos poetas, das odes à cebola e a tantas outras coisas de Pablo Neruda, do riquíssimo cinema italiano que ele nos fez gostar igualmente. Entretanto, ao final de suas críticas, contou-me que o único livro pelo qual, quase sem querer, tinha sido deixado surpreender-se fora a tal da já famosíssima saga Harry Potter. Adorava e apreciava a criatividade da autora em unir tantos elementos fantásticos com magia, com graça, encanto e, ainda sob essas condições, cercados de valores simples aos quais estamos sempre ligados. Fiquei feliz em gostar de Harry Potter, em saber que a figura do professor, o mestre que tanto me incentivara a ler e a escrever também se deixara cativar pelo livro e pela história de crianças especiais.
Se foi a saga que criou em mim o gosto pela leitura? Muito longe disso, só vim ler os livros (acreditem) em 2009. Antes eu apenas assistia aos filmes e fazia isso sagradamente, cultuava com outra literatura, embora adorasse e me emocionasse com a história de Harry com quem, aos 7 anos, pela primeira vez que o vi nas telonas, quis casar-me. Acho que não demorei muito para notar o quão ridícula a ideia era. Fui uma garota utópica, caro leitor, um pouco além de sonhadora talvez. Era mágico, era surreal aquele momento no qual eu sentava na sala de cinema ao lado de meus pais e mais nada dizia. Éramos eu, a música tema de Harry Potter que tantas vezes me fez chorar e o mundo no qual eu entrava tão profundamente, aqueles instantes nos quais me abstraía de minha própria realidade e era uma bruxa. Acho que não jogava quadribol tão bem quanto Harry, nem era tão atrapalhada quanto Rony, todavia adoraria entrar e passar horas na biblioteca de Hogwarts com minha colega Hermione. Nos dias sem aula, eu me sentaria à margem do lago, na sombra de uma árvore do gramado e leria Hogwarts: Uma História. Poderia também comer uns feijõezinhos ao lado da turma da minha casa, talvez a Lufa-lufa como era na época. Hoje quem sabe Corvinal, Grifinória... Não sei se gostaria de ser uma Sonserina.
Impossível não me recordar do quanto senti medo de Voldemort naquela memorável cena da Floresta Proibida na qual aquela criatura de capa negra bebia o sangue azul, lindo, de um puro unicórnio. De como a pedra filosofal escarlate brilhava nas mãos de Harry. Do quanto eles foram injustos com Snape enquanto Quirrel era quem executava a azaração. De como o cabelo da Hermione abaixou entre o primeiro e o segundo filme. Do diário de Tom Riddle, aquele garoto bonito, ardiloso e misterioso. Das conversas entre ele e Harry. Da frase escrita a sangue fresco na parede que dizia que o corpo de Gina, aquela pequena Gina, jazeria na Câmara Secreta. Depois veio o Lupin, professor querido, nosso primeiro animago. O viratempo, que tanto auxiliou o trio. A cena da Casa de Gritos, as descobertas... Quem era afinal esse tal de Sirius Black. O Torneio Tribruxo. O ano inesquecível com novos alunos, novas histórias. O primeiro ciúme de Rony por Hermione e Krum. A primeira morte, J.K. Rowling dá ares mais sombrios ao seu livro. O trio começa a crescer, não são mais crianças. A marca negra é vista. Lorde Voldemort ressurge. Dolores Umbridge, uma das mais odiadas por mim. Bellatrix Lestrange. Uma profecia. Luna Lovegood. Oclumência. O quanto Tiago Potter foi travesso com Snape. Tempos negros em Hogwarts. As horcruxes. O príncipe mestiço. Dumbledore e sua mão carcomida pelo veneno, pelo feitiço. Os Inferi. Harry e Gina. Rony e Lilá. Rony e Hermione. E daí veio o final, as verdades tão aguardas. Primeiro vieram os livros e, nesta última sexta-feira, com a estreia do filme, Harry Potter definitivamente acabou. Acabou, fácil assim.
Após 10 anos assistindo aos filmes, 14 de livros e toda a minha infância, a minha adolescência acompanhando o crescimento do bruxinho mais querido pelo mundo, não consigo simplesmente dar adeus. Não consigo, não posso me conformar com o fato de que crescemos. De que Harry, Rony e Hermione cresceram. De que passaram pelas travessuras infantis, de que descobriram os mistérios da adolescência para enfim tornarem-se adultos e seguirem seus caminhos pelas tortuosas estradas da vida e da literatura mundial.Ficam as lembranças desta maravilhosa geração, a geração que cresceu com seu ídolo como outras algumas décadas atrás cresceram com os Beatles. Ficam os livros, os momentos com os personagens que vieram junto comigo de minha infância. Ficam as lágrimas, os sorrisos, os nomes em latim dos feitiços que conjurei tantas vezes enquanto caminhava sem rumo. Ficam os intervalos de meses pelos quais aguardei ansiosamente pelas continuações. Ficam no passado, no presente e futuro.
Desejo a todos os fãs - aos fãs de muitos anos, aos fãs dos livros, aos fãs dos filmes apenas, àqueles que tornaram-se fãs pelo fim, àqueles que assistem a um filme ou outro, àqueles que só leram o primeiro ou talvez o segundo livro, aos posers -embora eu deteste essa palavra -, aos eternos, às crianças, aos jovens, aos mais velho e que ainda acreditam na fantasia – um encanto em suas vidas que nunca se acabe, que Hogwarts esteja sempre lá para vocês, para nós. Que a magia viva em nossas almas como uma velha conhecida, sempre pronta para ser acesa por um simples feitiço Lumos. Que o Nox de Harry Potter demore para ser conjurado.
Li muita gente dizendo que a magia é para sempre, que Harry Potter será para sempre mas, honestamente falando, não desejo isso ao bruxo. Que lástima seria uma vida eterna, nem o próprio Nicolau Flamel, dono da pedra filosofal a quis. Que Harry Potter dure o tempo necessário, muitos e muitos anos nas línguas, nas mentes e em nossos corações. Que seja aquela história leve, soprada pelos ventos de todos os cantos do mundo, que seja repassada de pais para filhos, netos, bisnetos e, quando chegar a hora, que parta em paz.
15 comentários:
Ana, toda vez que leio algo assim eu já começo a chorar ;~ Isso porque ainda não vi o filme ;\
Acho que essa história, que nos acompanhou por tanto tempo, faz parte das nossas vidas, e vai depender de cada um deixá-la viva ou não dentro de si.
Beijinhos
Conjunto da Obra
è impossível não chorar quando se algo de HP, né? Rs
Sempre fará parte de nós, sempre!
Beijos
Thata e os Livros~
Ah, HP me emocionou tanto, quando sai do cinema no sábado fiquei perdida, me peguei pensando... Acabou, e agora?
Caramba, foi muito triste...
Beijokas
Livros & Fuxicos
Boa Semana
Ola retribuindo a visitinha você é muito fofa. adorei seu blog
Beijos :D
Obrigada!
Gostei muito do seu blog tbm
já estou seguindo ;)
beijo e sucesso
Oi, Ana. :)
MUITO lindo tudo que você escreveu... mostra o espírito potteriano de fã que transparece a cada palavra desse excelente texto escrito por você. Parabéns mesmo.
HP é eterno enquanto durar... um tempo muito longo, que ultrapassará gerações, pode ter certeza. E vamos fazer questão de reviver essa memória reveladora presente na vida de milhares de fãs. :''')
Beijão. :*
Fran.
éé, infelizmente D: mas como não me canso de assistir .. sempre que sentir saudade revejo os filmes do HP *-* awn ;(
beijinhos, obg pela visitinha!
Ei Ana,
Já chorei litros pelo final do HP, seu texto ficou muito lindo.
Ah eu desgostei do filme comparando com o livro, de não terei mostrado melhor as mortes que aconteceram. E principalmente o confronto final que eles mudaram tudo e cortaram o melhor discurso que o Harry faz para o Voldemort no fim. Ele morre e ai pronto, já passam para outra coisa. Nem comemoram aff
bjo
Nanda
Muito bonito seu texto, realmente, não tinha pensado nisso do Harry ser eterno... ele deveria, assim como vc escreveu durar o tempo necessário, talvez mais algumas gerações, quem sabe?
Pq, se fosse uma obra eterna perderia um pouco do brilho... Mas veja Tolkien, suas obras são praticamente imortais, de domínio publico (não sei se vão durar para sempre mas H.P. poderia seguir o mesmo caminho)
teh mais
Adorei o texto. Já li tantos textos falando sobre HP que já tô um bagunça, de tão deprimida. Ainda não assisti o filme, mas nem consigo acreditar que acabou.
Natália Maia - viciadasemlivros.wordpress.com
Que texto lindo!
E que texto muito, mas muito bem escrito mesmo!
Bom, apesar de discordar do seu professor, adorei saber que nem ele conseguiu resistir a HP!
Me emocionei com seu texto, me reconheci em muitos momentos dele. HP tem essa capacidade de nos encantar e transpostar para seu mundo de um jeito que nenhuma outra série conseguiu, pelo menos para mim.
Foi muito triste e difícil encarar o fim, mas também acredito que não vai acabar, não por enquanto.
E, por fim, amei a maneira de como você terminou o post! Lindo, mesmo!
Parabéns!
Beijos!
Que lindo!
Como você escreve bem!
Creio que para os fãs a saga jamais será esquecida e sempre será lembrada com muito carinho.
Parabéns pelas belas palavras.
E obrigada por seguir, visitar e comentar.
Já estou seguindo e adorando o seu blog.
Beijos.
Books E Desenhos.
fiquei até emocionada, que lindo !
http://esmaltebrasil.blogspot.com/
Nossa Ana, você escreve muito bem, eu sou fã da saga desde pequena, chorei horrores hoje de tarde quando vi o filme, chego do cinema e encontro esse texto, nem chorei. rsrs
Garota de Cristal
Nossa dar adeus a algo que gostamos é algo complemente dolorido, bota dolorido nisso. Confesso que fiquei super deprimida com o fim dos filmes de Harry =/ É tão desgastante sabe que um coisa que gostamos tanto se acabou, tudo bem, sei que poderei ler os livros e assistir os filmes quantas vezes quiser, porém a expectativa de ficar esperando o próximo filme que será lançado não existirá mais, é realmente triste. Enfim, vou parar por aqui, porque seu texto já me fez chorar litros, MUITO LINDO são as únicas palavras que veem a minha cabeça. Parabéns por escrever tão bem assim.
Beijos&beijos
Book is life
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