25 dezembro 2011

Carpe diem, diletantismo, ser ou não ser?


Para a postagem de Natal, em vez do Destaque do Mês, como é de praxe, para não criticar negativamente em uma data de tanta serenidade e alegria, deixo um texto mais light, uma crônica que redigi originalmente para o Blog das Resenhas, onde também sou colunista, e que deixo para meus leitores aqui, agora, além de minhas sinceras felicitações pelo Natal, que todos tenham aproveitado imensamente essa data de tanto amor e família.
Carpe diem, diletantismo, ser ou não ser?
por Ana Ferreira
Tem gente que diz ser difícil atribuir características a si mesmo, aquela tal história de definir-se é limitar-se. Discordo. Se fosse para descrever minha personalidade em poucas palavras, não deixaria de atribuir a condição de cética em que me encontro. Não acredito em destino, não acredito em milagres, não acredito em ressurreição ou reencarnação, mas leio nas revistinhas de fofoca a descrição do meu signo regente. É um caso complicado…
Não sei se por uma ironia, ou por aquele simples gosto que o ser humano tem de encontrar explicações que o resumam em sua semelhança.  Não acredito em prever o futuro de acordo com o zodíaco, mas não posso deixar de pensar que, ou por costume ou por coincidência mesmo, sou a libriana indecisa e com forte tendência às artes que os astrólogos previram. E em meio a uma dessas leituras descontraídas, entre descrições de personalidades múltiplas que me alcançavam, deparo-me com um vocábulo desconhecido. Entre os defeitos do signo, diletante.  Curiosa como sou, fui logo buscar pelo significado e encontrei as seguintes explicações. De acordo com o Dicionário Online de Português, “s.m. e s.f. Amador de belas-artes, especialmente de música. /P. ext. O que se ocupa de qualquer assunto por gosto, e não por obrigação.”  E para confirmar, diletantismo, segundo o Michaelis,  1 Caráter ou qualidade de diletante. 2Sociol Filosofia de vida que coloca, como condição prévia à ação, o prazer e o capricho pessoal.”
Seria propriamente um defeito ser diletante, apegar-se a alguma atividade pelo simples prazer que ela proporciona? Não é, afinal, um privilégio de poucos trabalhar naquilo que gostam? Será que o diletantismo resume-se ao artista? Não defendo opiniões utópicas e inalcançáveis.  É a estabilidade dos pés no chão, a gravidade do mundo que é, por muitas vezes, cruel, que nos impede de cair. Viver de arte é difícil, indubitavelmente. Quadros com incríveis noções de luminosidade e mulheres belíssimas não alimentam a fome do povo, livros com histórias arrebatadoras não preenchem currículo, uma sinfonia composta pelas notas do coração não paga contas de luz, água… Mas o ser humano precisa tentar!
Em algum instante da vida, é necessário arriscar. Apostar nessa paixão advinda do prazer que já criou as mais belas obras possíveis. Largar um pouco o certo pelo incerto, o conforto pela novidade, curtir o dia como se fosse o último, mergulhar no carpe diem.  Afundar-se em música, em letras, em pinturas e partituras para ter certeza de que o diletantismo não valeu a pena. Ninguém é obrigado a escolher entre o ser ou não ser. Às vezes a gente pode ser mais ou menos, pode não ser perdido em uma outra dimensão, ser um outro alguém, não ser razão nem coração.
O capricho pessoal não é pecado, não é preguiça, não é egocentrismo.  É puramente o contato consigo mesmo, o reencontro da vocação ou do simples prazer.  Aquele momento em que a gente para e reflete sobre a vida. Como estou com os meus planos? Quais são os meus sonhos? Quem sou eu para as pessoas que amo? Quem sou eu para mim mesmo? Onde quero chegar? Até qual ponto vai a minha determinação? Eu evoluí nos últimos anos? Sou e estou feliz?  O carpe diem não precisa durar o dia todo, até porque a realidade sempre nos atinge em algum momento, e o futuro não espera, mas podem ser aqueles sublimes minutos nos quais você se deita sobre sua cama e ouve música bem alto, quando as notas agressivas ou suaves, leves como uma brisa ou fortes como uma ventania, vão de encontro ao seu coração.
Um dos personagens de Carlos Ruiz Zafón, em Marina, em dado momento da obra, profere as seguintes palavras: “Poderia pintar por mil anos e não mudaria um milímetro da barbárie, da ignorância e da bestialidade dos homens. A beleza é um sopro contra o vento da realidade [...]. Minha arte não tem sentido.”  E concluo esse texto, mais uma vez, discordando. Pois se o meu próprio ceticismo se rende a crenças populares, por que não seriam os diletantes capazes de trazer mais belezas ao mundo das barbaridades?


6 comentários:

Carla Wolf - Vestindo Ideias disse...

Amei seu texto! É muito verdade,nunca acreditamos em nada,mas estamos sempre lendo nossos signos no final de uma revistinha de fofocas! É um casa a se pensar não?
Seu texto ficou ótimo!
Beijos
wolftheideia.blogspot.com
ps:Feliz Natal

Kassiane Cardoso disse...

Amei seu texto,muito bom!
Não acredito em signos,mapas astrológicos e etc...
mas quando muitas pessoas tem duvidas comuns,como as que você colocou aqui,buscam por eles,
essa ideia é pra ser pensanda e refletida por um bom tempo,pois ela vai nos render muitas certezas e incertezas...

Beijos!! =D

elly disse...

Feliz Natal!!
estou te seguindo,
e te convido pro sorteio de um tablet lá no meu blog,ok
será super bem vinda!
bjinhos
www.coisasdeladdy.com

Unknown disse...

Ana, Uau! o.o
Não sei porque ainda me impressiono com os seus textos pois já deveria bem saber que você escreve maravilhosamente bem! Tão bem como poucos!
Adorei a reflexão poética, as suas divagações, tudo! Um texto bastante propício não só para a data de hoje, mas em qualquer momento de nossas vidas!

Peço desculpas por estar tão ausente mas é que ultimamente ando ausente da blogosfera em geral, até do meu próprio blog! =/
Fim de ano anda corrido, mas espero voltar a ativa sem demora!

Beijos, querida!
E um Ótimo Natal para você! ^^

Aione Simões disse...

Ana, adorei!
Ao contrário de você, não sou cética, ainda que não acredite em previsões do zodíaco. Entretanto, amo astrologia (como você sabe) e, sendo libriana como você, não posso aceitar também que ser diletante seja um defeito. Conforme eu lia as definições, ia pensando: mas isso não é bom?
Também sou daquelas que faz com gosto quando faz aquilo o que gosta e acho isso uma dádiva!
Enfim, nem sempre é possível mergulhar no Carpe Diem, mas, quando há essa possibilidade, também mergulho sem pensar!
Parabéns pelo texto lindo! Adorei todas os paradoxos que você colocou, acho que mostram perfeitamente a complexidade de nós mesmos!
Beijos!

Alinne disse...

Amei o seu texto e sempre me impressiono com a sua maneira de escrever que é brilhante por sinal! E acredito em signos porque muitas vezes as previsões deram certo para mim.=)
Não precisa se desculpar viu? Entendo perfeitamente e sei como muitas vezes acaba sendo difícil conciliar o blog com a correria de nossas vidas.
Beijos.
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