31 dezembro 2011

Um Dia, por David Nicholls

Título: Um Dia
Título original: One Day
Autor: David Nicholls
Tradução de: Claudio Carina
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 411
Edição: Rio de Janeiro 2011
ISBN: 978-85-8057-045-8
Gênero: Literatura Inglesa; Romance; Drama

Não é segredo para os leitores mais apaixonados que Um Dia foi uma leitura extremamente aguardada e, depois, elogiada pela crítica, que o definiu como um romance cativante, inteligente e espirituoso. Após ter concluído esta leitura, a minha última em 2011, a propósito, não poderia deixar de concordar com esses poucos adjetivos que representam muito bem o conceito deste livro tão sensível.

Emma Morley e Dexter Mayhew se conhecem, de fato, na madrugada do dia 15 de julho de 1988, quando ambos se formam na faculdade, jovens, e compartilhando do sentimento de vazio que a caminhada inesperada pela frente, na vida adulta proporciona. Além disso, alguns beijos os levam ao apartamento da moça e lá quase, quase dormem juntos. Naquele um dia marcante, conversam sobre o futuro e sobre mudar o mundo de uma maneira toda rebelde e jovial, jurando um ao outro que manteriam a amizade dali em diante. Não poderiam esperar, entretanto, que nos próximos 20 anos de suas vidas, naquela data especial, 15 de julho, acabariam por se reencontrar sempre e continuariam unidos, de alguma forma.

O primeiro fato que surpreende no romance de David Nicholls talvez seja, ironicamente, a realidade. Claro que há toda a pieguice em torno da data que se repete nos 20 anos seguintes, com um significado todo emblemático, mas, ainda assim, as personagens que encontramos neste livro têm um quê da vida real inegável. A começar da imagem habilmente tecida dos dois jovens. Uma Emma aspirante à atriz, cheia de sonhos e utopias a respeito de fazer a diferença com suas palavras, com suas manifestações estudantis. A moça que idolatrava Nelson Mandela e reprimia algumas consequências do capitalismo com discursos sobre a injustiça social; que cortava os cabelos sozinha e mantinha seus óculos redondos, fundo de garrafa, para não se tornar um objeto sexual vaidoso; extremamente feminista e inteligente; leitora assídua e voraz e, por detrás de toda a rebeldia, romântica, idealizadora. Do outro lado, Dexter é a imagem do típico filho de papai: rico e bonitão, jovem petulante e sexualmente insaciável, galanteador, fã de bebidas e cigarros Malboro Lights idealizando partir em uma viagem rumo ao mundo e à Ásia após a formautra. Dois universitários comuns, dois jovens que ao longo dos 20 anos decorrentes crescem e se mostram ao mundo como adultos distantes de todo o passado, próximos apenas um do outro e de sua amizade com estranhos ímpetos de paixão.

A narração do livro entusiasma: o leitor quer mais a todo o tempo, espera sempre que aconteça algo ao casal e vê como a vida dos dois reage a cada guinada, nenhuma forte o suficiente para abalar o sentimento intenso que os une. É bonita a dedicação de Em para com Dex em suas cartas longas e romanticamente frustradas, em seus telefonemas preocupados e a cada gesto que lhe mostra o quão importante é em sua vida. A admiração quase sempre secreta dele por aquela mulher forte, teimosa e linda, embora insista em se colocar para baixo com seu jeito rabugento.

Fui uma das que colocou bastante expectativa neste drama e posso afirmar que, embora tenha encontrado algo extremamente distinto daquilo que imaginava, dei de cara com um livro maduro, doce e cruel ao mesmo tempo. A aura em Um Dia é quase que invariavelmente reflexiva e o tempo psicológico nos faz perceber quantas coisas poderíamos ter feito enquanto fazíamos outras, quantas oportunidades perdemos e, acima de tudo, o quão delicada é a vida.

A história de David Nicholls trata, muito habilmente, do cotidiano de todos nós. Fala em juventude, amadurecimento, relacionamentos, sonhos, distopias, felicidade, tristeza, família e os diferentes tipos de amor. Sem romantismos extremos, sem doses altas de beijos ao pôr do sol e juras eternas de paixão, mas um sentimento palpável e consistente, alimentado e também sufocado pelo tempo, maduro e vital.

É uma leitura completa, há momentos em que faz sentir aquela vontade louca de rir descontroladamente e não menos presentes, a de chorar pelos personagens como se nada mais fosse dar certo. Nestes especiais de fim de ano, vi muitos outros blogueiros literários colocarem Um Dia como o livro que mais os fez refletir em 2011, deixando-os pensar horas a fio em suas palavras e, ainda que eu não tenha feito a minha retrospectiva literária solidamente, não posso deixar de concordar com eles.

Avaliação Geral:
Nota 5 de 5 (Ótimo)

Trailer do filme homônimo baseado no livro de David Nicholls

Um bom sábado a todos, com direito a grandes expectativas para o ano que se aproxima! Feliz 2012!


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