07 janeiro 2012

O Preço de uma Lição, de Federico Devito e Gutti Mendonça

Resenha da semana é uma coluna na qual Ana dá sua opinião a respeito do livro lido no momento, com direito a trechos e informações completas a respeito da obra e do autor. Postada aos sábados.
Título: O Preço de uma Lição
Autores: Federico Devito e Gutti Mendonça
Editora: Novo Conceito *(parceira - cortesia)
Número de páginas: 366
Edição: Ribeirão Preto 2011
ISBN: 978-85-63219-66-4
Gênero: Juvenil; Literatura Brasileira
"As pessoas amam outras pessoas por vários motivos. Alguns amam porque são amigos, outros porque admiram, alguns porque confiam seus segredos, outros porque compartilham bons ou maus momentos juntos, amam porque são confidentes, amam simplesmente porque a pessoa é muito bonita e há também aqueles que amam porque se encantam, bem como aqueles que amam porque estão juntos sempre que possível ou que amam porque simplesmente amam."
Conheço muita gente que se negaria terminantemente a ler este livro pelo fato de ser da autoria de um dos famosíssimos colírios da revista adolescente Capricho, alegando tratar-de algo fútil, um sonho de tantos brasileiros realizado muito mais facilmente em nome do rostinho bonito. Seria hipocrisia discordar totalmente, pois de fato o status obtido por Federico Devito em nome de seu rostinho bonito facilitam, e muito, esta publicação, ainda mais com uma editora tão conceituada quanto a Novo Conceito. Entretanto, mais hipócrita ainda é dizer que foi apenas isso. Não se pode negar que, no mínimo, um pouco de talento reside nos rapazes que nos contam a história de O Preço de uma Lição.

Assim como uma grande parte de leitores, normalmente, passaria longe do livro por não fazer exatamente o meu estilo literário. Todavia, tendo-o recebido de cortesia da editora, só restou privar-me de preconceitos e mergulhar na premissa de que garotos são, sim, capazes de amar.

A começar por um fato curioso que custei muito a notar, o protagonista do livro, o garoto, que narra a história em primeira pessoa ao longo das 366 páginas, não tem nome. Juro que procurei por todas as partes, em diálogos, ao término da leitura, mas realmente não podemos chamá-lo de outra forma sem ser "garoto", "protagonista" e cair nos pronomes... Detalhes à parte, somos introduzidos ao seu mundo quando ainda era um moleque, criança e em uma situação embaraçosa, começa uma amizade duradoura com aqueles que seriam seus três melhores amigos dali em diante, até muito depois que ele poderia imaginar: Paulinho, Cláudia e Manu, o quarteto 21, por todos terem nascido no dia 21 de algum mês diferente.

Somos então subitamente arrancados de sua infância e nos deparamos com uma adolescência na qual é começada sua conturbada trajetória romântica com diferentes meninas dali em diante. Sara, Melissa, Marcela(s), Beatriz... Até o dia em que se vê diante de Juliana e declara estar perdidamente apaixonado pela menina de 15 anos, ele aos 20. E daí em diante, o livro praticamente inteiro se resume aos dois.

Sei que é um tanto quanto genérico e até tosco da minha parte introduzir o livro assim, mas é que eu verdadeiramente não poderia sintetizar uma sinopse sem ser mais objetiva e, alego, sem deixar spoilers, uma vez que aquela pequena sequência de fatos citada acima, até Juliana, sucede-se em menos de 80 páginas. Claro que em meio a esses fatos alternados, conhecemos muito da vida do protagonista. Suas aspirações profissionais, seus tempos de estudante e de curtição puramente adolescentes, seus vários pensamentos... Em alguns pontos, sem qualquer ironia, há algo no clima, no suceder da história que me lembra da eterna Malhação, exibida sagradamente ao longo de nossos finais de tarde desde 1995 (oi, ano em que a Ana nasceu) pela Rede Globo.

Ao que me parece, o principal objetivo dos dois jovens autores foi mostrar a realidade dos relacionamentos e do amor entre jovens, partindo excepcionalmente do homem, indo contra aquela velha e sempre nova de que os meninos não são capazes de amar. E devo dizer que, para iniciantes, como muitos citaram em suas resenhas, os rapazes foram bem sucedidos. A narração é bem ritmada e extremamente contemporânea a cada ano em que os acontecimentos passavam, bem próxima à realidade dos jovens, destaca-se jovens ricos, indubitavelmente. Eles saem, vão para churrascos, estudam para o vestibular, têm famílias comuns que aparecem ao longo da história, falam por computador e telefone, além de várias alusões ao Orkut (o término da história se passa por volta de 2010, relevem, facebookers) e são pessoas de verdade(!!!!!!!!!!!!), uma qualidade para um livro juvenil atual. O que considerei, entretanto, um grande e enfadonho problema foi a pieguice ao mostrar que os meninos são capazes de amar, com alguns exageros na dose que soaram extremamente irreais; as várias páginas gastas para telefonemas entre o protagonista e sua amada/adorada/idolatrada Juliana e as eternas discussões e diálogos entre amigos a respeito de assuntos já discutidos, que insistiam em voltar, como se não houvesse mais nada a ser escrito, como se fossem as únicas coisas que importassem na história.

Sei que em um livro juvenil (YA book), por exemplo, o tema central é, quase que invariavelmente, o par romântico que se forma muito cedo ao longo de seu desenvolver. E por mais cedo tenha sido, há sempre outros problemas, externos e entre eles mesmos, que nos impedem de cansarmos de seu relacionamento ou de suas conversas com cerca de 6 "eu te amo muito" a cada 5 minutos. Não foi o caso de O Preço de uma Lição. O relacionamento entre Juliana e o protagonista quase parece auto-biográfico por parte de um dos autores e a história faz com que o leitor sinta-se lesado, além de que nada fica totalmente resolvido. Senti-me forçada a pular algumas páginas, porque não aguentava mais repetições e, olha, não me fizeram falta.

Outra coisa que eventualmente desagrada é a falta de identidade para o protagonista. Todo ser humano que aparece no livro tem um nome, por mais inútil que este seja e fica até difícil lembrar de todo mundo, mas como é que logo o cara em torno do qual giram as coisas é um fulano qualquer?

No mais, apesar de algumas falhas encontradas, para os fãs de juvenis e romances, é uma pedida interessante, até por se passar no Brasil, em cidades como São Paulo, Mogi e Curitiba, por exemplo, com estabelecimentos e lugares bastante conhecidos por todos nós (alguém mais percebeu o Federico Devito puxando saco da Editora Abril, que coincidentemente é responsável pela Capricho? Página dos agradecimentos é pra quê mesmo?), com momentos agradáveis e histórias altamente comuns em nosso cotidiano. Espero também que as meninas histéricas, participantes de algum fã-clube de Gutti ou de Federico, possam, através deste volume literário redigido pelo ídolo, despertar para a leitura e integrar esta nossa classe um tanto quanto extinta.

 O Preço de uma Lição nada tem de fantástico ou inesquecível, mas bom, um início bem conduzido por dois autores jovens que certamente sabem dialogar com o público para o qual escrevem. Fica ao seu critério.

Avaliação Geral:
Nota 3 de 5 (Bom)


Um bom sábado a todos!

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