Jovem tem mania de revolução. Quando nasce, olha pro mundo com uma ardência de quem não conhece a luz e chora. Quando criança, faz um punhado de perguntas, mais eficaz que lead de jornalista sem criatividade.: "por que isso?", "por que aquilo?", "como?", "quando?", "onde?"... Daí surge a tal da juventude, com indício numa adolescência cheia de mudanças e descobertas. A mocinha romântica escuta o nome de Nelson Mandela e Che Guevara e resolve que vai botar pra quebrar.
Anarquistas ou de esquerda, agnósticos ou ateus, socialistas, hippies, punks, emos, rockeiros felizes (origens no termo Happy Rock, de bandas com extrema profundidade sentimental e cheias de rimas riquíssimas em suas melodias). A galera quer mesmo é contrariar. Surge, enfim, aquele desejo louco de não ser reconhecido apenas pela paixonite da vizinhança, mas pelo mundo que gira a todo vapor. O jovem não quer ser um observador, quer ser engrenagem.
Rebeldes sem causa ou futuros embaixadores da ONU, somos todos parecidos no começo. Queremos experimentar, descobrir aquilo que nossas pequenas mãos de infância não nos possibilitaram, sentir as emoções à flor da pele, correndo o risco da intensidade de uma vida sem limites. Irresponsáveis ou meio responsáveis por natureza, a juventude é pura inspiração. Adrenalina em seus níveis mais altos sem riscos de doenças: jovem só morre de amor. Mas amor de jovem também passa rápido. Uma semana e a dor de um beijo roubado ou de uma noite primeira já foi esquecida.
Somos detentores, acima de tantas outras coisas, do tempo. Nossos dias se alargam nas longas horas da escola e estudo; nas eras de hibernação invernal ou, por que não, estival; nas rápidas refeições calóricas e coloridas, cheias de viço e gorduras que só trarão problemas em outra idade; nas tardes passadas ao lado dos amigos ou do namorado sem fazer nada e coisa nenhuma, sonhando com uma revolução que não tem pé nem cabeça, e que contudo não lhe falta paixão.
Paixão para abraçar uma nova fase da vida com curiosidade, aceitando suas mudanças e até curtindo naturalmente cada uma delas. Paixão para enxergar o mundo de outra forma, com uma paleta de cores quentes e uma obra de texturas diversas, atraentes e esquisitas, com cheiro de tinta nova. Paixão para se deixar amar entre os lençóis da cama de solteiro sem grandes preocupações com o que pode ser o amor, tão indecifrável até para Freud. Paixão para defender a independência com as vorazes garras, dentes e bocas das feras joviais que querem se expressar e mostrar ao povo que o que eles falam na TV sobre o jovem não é sério.
Woodstock brilha nos teus sonhos, jovem. A revolução real, porém, talvez não seja tão bela quanto esperas enquanto dormes. A independência convida-te, sim, para defender tuas opiniões e para assumir, também, a responsabilidade por cada uma delas, sem a tal da morte que o famigerado Dom Pedro proclamou. Eufemismos à parte, Che Guevara disse que preferia morrer em pé do que viver ajoelhado, mas às vezes o corpo precisa descansar e a juventude dificilmente escapa da essência de uma alma.
Os sonhos da noite são deslumbrantes, mas, ao amanhecer, todos os despertadores devem soar. Escola, faculdade, trabalho, estágio, academia ou outra coisa qualquer, sem o brilho da grande independência. Mais um final de dia e uma promessa de esperanças renovadas: You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one.
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