17 maio 2012

Oksa Pollock e o Mundo Invisível, de Anne Plichota e Cendrine Wolf


"Ela não sabia. Tanto podia ser o melhor quanto o pior, provavelmente. Com o surgimento daquela Marca, toda a sua vida tinha sido sacudida. Ou melhor, o seu futuro. Sonhava estudar e se tornar astrofísica desde que descobrira as inúmeras riquezas ocultas no céu. Conseguiria? Casaria? Teria filhos? Ou guiaria os Salve-se-quem-puder para Edefia, onde seria a soberana?"
Constantemente, na literatura moderna voltada a jovens, deparamo-nos com personagens que têm suas vidas viradas de cabeça para baixo em uma questão de pouquíssimo tempo por conta de descobertas fantásticas (no sentido mais literal da palavra) que as arrancam de seu mundo seguro e mudam toda a sua perspectiva universal. Com Oksa Pollock, uma simpática garota de apenas 13 anos, a situação é um pouco mais grave: ela não apenas se vê com a capacidade de executar diversos poderes sobre-humanos como realiza que sua família tem escondido suas reais origens, num lugar além da Terra chamado Edefia.

Pendendo bastante para o lado mais infanto-juvenil dos livros, há em Oksa Pollock e o Mundo Invisível uma inocência e gosto de infância abandonada aos poucos que encanta seus leitores com as traquinices da protagonista e de seu melhor amigo, Gus, duas personagens cativantes que fazem jus às tantas resenhas encontradas por aí em outros veículos de comunicação.

Após mudar-se com a família de Paris para Londres, a menina observa mudanças estranhas em seu corpo e passa a ser capaz de realizar atos inacreditáveis simplesmente com a força do pensamento. De suas mãos são lançadas bolas de fogo em descontrole, de sua irritação nascem verdadeiras tempestades, de sua concentração, a capacidade de levitar, além de uma série de outros poderes que surgem misteriosamente. Não tanto assim, afinal, como lhe revelam o pai, Pavel, e a avó, uma senhora excêntrica e cheia de segredos em seu ateliê, Dragomira. Logo a distante terra de Edefia passa a ser uma utopia comum de todos os exilados de seu reino de magia, destruído pela ambição de um homem traidor, e Oksa pode ser a única esperança destes de um dia voltarem às origens.

A narração é feita em terceira pessoa, contudo, por diversas vezes, assume o discurso indireto livre, o que aproxima o leitor dos pensamentos peculiares da menina Pollock, efusiva e aterrorizada, simultaneamente, com a nova realidade que se abre diante de seus olhos. O que é um fato a se destacar, a propósito, pois é comum vermos resenhistas reclamando da imersão rápida que algumas personagens fazem em seu mundo sobrenatural, aceitando tudo com muita facilidade, como se por toda a vida estivessem esperando por eventos surreais.

A parte mitológica criada pelas autoras, Anne Plichota e Cendrine Wolf é muito particular, cheia de criaturas esquisitas, divertidas, beirando até à infantilidade e com um conceito muito ecológico que, embora esteja inserido numa obra fictícia, aparece como uma defesa de quem escreve. As plantas, por exemplo, estão tão vivas quanto as nossas, mas manifestam-se como seres humanos, cheias de emoções e características que se destacam em suas personalidades, como num grande mundo de sonhos.

Como segue a tradição dos primeiros volumes em séries e trilogias, o caso de Oksa Pollock, este é um livro de caráter introdutório, com ação suficiente, porém um amplo leque de informações sobre o mundo de Edefia e uma proximidade desenvolvida pouco a pouco com cada uma das personagens em sua particularidade. Também como um infanto-juvenil de nossos tempos, apresenta alguns elementos já nossos conhecidos e que são sempre alegres reencontros: a mocinha com ares de heroína e levada; o melhor amigo com imenso potencial para tornar-se o primeiro amor; um garoto misterioso e atraente, Tugdual, que deixa o coração de Oksa disparado e a cabeça completamente confusa; a vovó sábia e monarca de um outro mundo; o pai melancólico e a mãe dedicada e amorosa, Marie; o vilão que se oculta dos olhos do bem em meio à sociedade.

Cativante e alegre, Oksa Pollock e o Mundo Invisível me conquistou de maneira sincera, e talvez o encanto fosse ainda maior se eu tivesse, quem sabe, 13 anos de idade novamente. Recomendado a todos os jovens de imaginação fértil e sedentos por uma boa e leve história, que continua.

Informações técnicas
Título: Oksa Pollock e o Mundo Invisível
Título original: Oksa Pollock - L'Inespérée
Autoras: Anne Plichota e Cendrine Wolf
Tradução de: Jorge Bastos
Editora: Suma de Letras - cortesia
Número de páginas: 426
ISBN: 978-85-60280-88-9
Gênero: Ficção francesa; Infanto-juvenil

Anne Plichota nasceu em Dijon e já viveu em várias localidades da França, além de Coreia e China. Já foi professora de chinês, auxiliar de enfermagem e escritora profissional de cartas.
Cendrine Wolf nasceu em Colmar, estudo educação física e trabalhou como assistente social em bairros violentos.
Juntas, escreveram os livros de Oksa Pollock e os publicaram por conta própria. O resultado animador das vendas levou a editora francesa XO a comprar os direitos da série e relançá-la com grande investimento. Ao todo, os livros venderam mais de 160 mil exemplares na França e foram traduzidos para 25 línguas.



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