25 agosto 2012

Dizem por aí, de Jill Mansell

Tilly é uma dessas personagens com as quais o leitor facilmente simpatiza a um primeiro olhar. Completamente atrapalhada e confusa após ter sido dispensada pelo namorado (na verdade ela que o induziu a fazer isto) com o qual dividia um apartamento em Londres, vai atrás do colo de sua melhor amiga, Erin, em Roxborough, uma cidade tranquila no interior da Inglaterra. 

O que ela não esperava, contudo, era se sentir atraída pela vida pacata do vilarejo a ponto de embarcar numa verdadeira aventura ao deixar todo o cotidiano na capital londrina de lado e ser contratada para o exótico cargo de faz-tudo de uma residência adorável na qual moram Max, seu chefe gay, e a filha Lou, uma garota de 13 anos extremamente descolada. Também lá, Tilly haveria de conhecer Jack Lucas, melhor amigo de Max e, de longe, um dos homens mais atraentes e adoráveis e incríveis com o qual ela já tinha tido a oportunidade de conviver. O único problema sobre Jack é que toda a população feminina de Roxborough parecia achar o mesmo e, mais, parecia ter provado, rendendo ao rapaz uma verdadeira fama de Don Juan

Numa narrativa em 3ª pessoa que alterna os pontos de vistas de diferentes personagens envolvidas na trama, Jill Mansell aconchega o leitor de Dizem por aí numa história leve, divertida e sem grandes pretensões. Através de uma linguagem simples e da predominância do discurso direto, fica fácil devorar as 400 e poucas páginas deste romance num final de semana preguiçoso. E esta voracidade no quesito cronológico se faz notável todo o tempo, podendo resultar mesmo num estranhamento em relação à rapidez com a qual as coisas acontecem na vida de Tilly e de todos os seus conhecidos em Roxborough. As amizades e a confiança nascem da noite para o dia; o amor brota daquelas situações típicas de romances, como beijos na chuva, mocinhos heroicos, corpos que se repelem ao início e mal podem ficar separados ao fim; e até mesmo a tragédia tem seu espaço em meio a essa premissa tão leve, na forma de um câncer que mal pode ser digerido pelo leitor. Salvas estas exceções, aprendemos com nossa  protagonista cool que o grande barato da vida é se deixar levar e curtir um dia após o outro (Ana entoando carpe diem).

A gama de personagens de Mansell é extremamente ampla, o que resulta numa comum predileção do leitor. Acho interessante ressaltar, por exemplo, que o fato de Max ser gay e ter sido casado com uma mulher por mais de 10 anos mostra, sem tabus, como nunca é tarde demais para que o homem aceite a si mesmo. A opinião popular e a fofoca também estão aqui a todo o tempo, antagonizando muitas vezes com as atitudes das personagens, mas são superadas uma a uma na vida de cada membro deste livro. Erin precisa dar um basta aos vexames pelos quais a ex-mulher de seu namorado lhe faz passar, Lou tenta driblar os preconceitos de seus colegas de classe em relação ao seu pai enquanto Kaye, sua mãe, uma atriz hollywoodiana, surge no lugar errado e na hora errada, pondo a carreira em risco. Mais que isso, temos Tilly tentando driblar os diferentes conselhos de "cuidado com esse homem", "você será só mais uma" e coisas do gênero para descobrir o verdadeiro Jack que há por detrás do esterótipo de solteirão sem causa.

Com doses homeopáticas de entretenimento e romance (achei que faltou um pouco, na verdade), temos em Dizem por aí mais um daqueles inúmeros volumes enfileirados em livrarias que prometem uma leitura agradável e talvez não tão marcante, todavia sempre um grato reencontro ou intermediário entre um romance perturbador e outro. Tilly não vai tirar de você lágrimas ou uma noite de sono, mas certamente umas boas risadas ou, quem sabe, um sorriso cúmplice de quem está captando tudo e, no entanto, promete não sair dizendo por aí.

Informações técnicas
Título: Dizem por aí
Título original: Rumour has it
Autora: Jill Mansell
Tradução de: Sayuri Arakawa
Editora: Novo Conceito (cortesia)
Número de páginas: 430
ISBN: 978-85-8163-013-7
Gênero: Ficção; Literatura Inglesa

Jill Mansell já vendeu mais de cinco milhões de livros ao redor do mundo. A autora best-seller cresceu em Cotswolds e estudou na Escola William Romney em Tetbury. Depois de trabalhar no Burden Neurological Hospital em Bristol por muitos anos, em 1992, ela tornou-se uma escritora em tempo integral. Ela mora com seu companheiro e seus filhos em Bristol.

Um bom domingo a todos!

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