06 setembro 2012

Mobilização Geral dos Estudantes Brasileiros


Desde os primórdios da história mundial, o homem tem reivindicado seus direitos através do poder da palavra e da retórica em manifestações que mudaram os caminhos de grandes governos, impérios milenares e tradições aparentemente intransponíveis. Embora diga-se por aí que não é do feitio do brasileiro ir às ruas protestar por seus direitos, temos passagens em nossa trajetória histórica, tais quais o movimento dos Caras Pintadas ou o das Diretas Já, que contradizem a crença e demonstram que, afinal, somos plenamente capazes de usar os meios de comunicação e a voz do povo para contestar a realidade em que vivemos e pedir por melhorias.

Atualmente, surge na mídia e nas redes sociais, movendo-se com suas próprias pernas e dona de um brado retumbante, uma nova geração de jovens brasileiros que se une na luta a favor de uma nobre causa: a educação. Em pleno ano de eleição e horários eleitorais repletos de promessas utópicas, a galera resolveu acompanhar de perto os trabalhos que estão ou não sendo feitos, criticando de maneira ferrenha, por exemplo, a longa paralisação das universidades federais, consequência de um impasse entre a categoria educadora e um governo que se reluta a pagar mais por um trabalho imprescindível para a formação dos alicerces de um país que almeja tornar-se desenvolvido. 

Acompanhada por jornais de todo o mundo, conhecemos recentemente a história de Isadora Faber, uma jovem de 13 anos que, munida de um olhar sincero e crítico, de uma câmera fotográfica e uma página no Facebook, o Diário de Classe, causou um verdadeiro barulho ao mostrar um retrato comum do que acontece nas escolas públicas do Brasil a partir do modelo da instituição na qual estuda, em Santa Catarina, onde haviam, entre outros problemas, fios elétricos desencapados, maçanetas quebradas, fechaduras com problemas, goteiras e merenda de qualidade contestável. Sua ação ficou conhecida por tanta gente que não demorou muito para que Diários de Classes de diversos outros estados brasileiros surgissem e se espalhassem, denunciando os problemas de várias escolas da rede pública de educação, esperando por respostas do governo. Foi assim também que, através da criação de um evento comum na rede social, nasceu a Mobilização Geral dos Estudantes Brasileiros, realizada hoje em 36 municípios tupiniquins.

Ao me deparar com a página do evento e a confirmação de mais de 28000 jovens, vi que um dos tentáculos da Mobilização seria em Santos e não pude deixar de representar minha cidade numa causa tão nobre. Sintetizando o movimento em poucas palavras, podemos dizer que as manifestações são apartidárias e pacíficas e lutam, de forma geral, pelo investimento de 10% do PIB para a educação, pela criação de cursos técnicos e profissionalizantes, valorização da carreira do professor, concursos públicos mais exigentes e pela criação de uma comissão de professores, pedagogos e estudantes a fim de auxiliar nas iniciativas que podem ser tomadas para que os níveis educacionais do Brasil alcancem um patamar de excelência, no futuro.

Nunca havia participado de algo do gênero e devo dizer, primeiramente, que foi uma experiência fantástica. Contar com a companhia de um grupo tão grande e que batalha por uma mesma causa é, de longe, uma honra. Contrariando o que tanto nos têm dito sobre o quanto nossa juventude de Facebook e Twitter é alienada, vi ali uma multidão, mais de duas centenas de gente com viço na pele e no espírito e os olhos cheios de determinação, de promessas daquilo que está por vir, extremamente engajado numa causa nacional. Pela primeira vez em muito tempo, observei e também senti aquela vontade que só o jovem pode possuir enquanto as pessoas passavam ao meu lado com cartazes, rostos pintados, apitos, narizes de palhaço e grandes sorrisos estampados de que aquela era, de fato, a coisa certa a se fazer.

Acompanhados ao longo de todo o trajeto por cinegrafistas e repórteres da afiliada santista da Rede Globo, a TV Tribuna, por hordas de curiosos e candidatos à prefeitura, literalmente, paramos o trânsito. E ainda que não por muito tempo, fomos ouvidos, como outros antes de nós já o foram. Na Baixada Santista, espera-se ainda que os salários da categoria aumentem, que a infraestrutura e o nível de ensino das escolas melhore, além de novos programas de incentivo escolar que tirem tantos jovens pobres da rua. Aos desesperançosos, todavia, afirmo com vigor e certa ousadia que trazemos a esperança conosco.

Exemplos não faltam e a vontade também está aí, surgindo de maneira ainda introspectiva, mas mostrando-se grandiosa conforme a juventude se une em torno de uma ideia. Pelo caminho certo, tenho certeza de que estamos indo e, diga-se de passagem, muito bem representados. É pela voz de pessoas como Isadora Faber e pelos representantes das Mobilização Geral dos Estudantes Brasileiros que se desenvolve o desejo de mudança. Esta, entretanto, só poderá ser realizada efetivamente pelas mãos de quem governa o Brasil e as suas tantas divisões políticas. Para isso, uma conscientização geral é imprescindível e o seu voto, se bem direcionado, ainda mais. Enquanto o povo souber de seus direitos e lutar por eles, nenhuma batalha estará perdida.


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