Fonte: Asha Produção |
Um livro pode chamar a atenção pelo enredo, por uma narrativa poética, por um autor famoso e por diversos outros quesitos... Certos livros, contudo, ganham valor de grandes obras e se tornam inesquecíveis para seus leitores apenas pelo poder de uma personagem.
Acredito que para todos os leitores haja uma caracterização dessa personagem traumática, que fica marcada por sua intensidade e pela sensibilidade do autor ao compor uma persona às vezes tão próxima da realidade e noutras tão distante... Na literatura, a personagem traumática pode ser homem, mulher, louca, doentia, irritantemente sã, sagaz, apaixonada, fria, tórrida ou dotada de tantas outras qualidades que a tornam única para quem a desvenda.
Abaixo, deixo uma relação de algumas personagens que me marcaram muito particularmente e que provavelmente o fizeram e ainda farão com tantos outros leitores.
Acredito que de toda a lista Capitu seja a mais traumática, em nome de sua personalidade múltipla e dos vários mistérios em torno dos quais o ponto de vista de Bentinho a envolvem. Capitu tem os famosos olhos de ressaca, um jeito meio debochado, dissimulado... oblíquo. Machado de Assis é Machado de Assis, afinal.
Entre as tantas personagens do clã dos Buendía, Aureliano, o primeiro filho de José Arcadio e Ursula, o coronel, está para mim como a melhor representação do conceito da solidão evocado por Gabriel García Márquez. Anarquista, senhor das guerras, quieto e eterno perdedor, é o grande nome da obra.
Lolita, Dolly... Lô é a menina dos olhos da obra de Vladimir Nabokov, cheia de malícia, menina e moleca, a representação pura da lascívia e também uma incógnita, como tantas outras coisas na obra do autor russo. Lolita, como o livro do qual ela faz parte e o qual carrega seu nome, é uma personagem forte e difícil de se digerir, mas que vale a pena.
Serena, de Serena
Serena é a personagem mais nova desta pequena lista. Longe de ser a mais marcante, mas a qual faz jus ao seu lugar entre as outras. "Espiã", bela e cobiçada por homens de diferentes lugares, movidos pela curiosidade em torno de sua personalidade tanto matemática quanto literária, mostrou-se como um enigma interessante.
Apesar de não ser fã de comparações, a Lavínia de Marçal Aquino está para mim como uma Capitu moderna, no entanto numa versão mais forte, apaixonada e extremamente intensa. Sua personalidade oscila numa versão doce da mulher que foi prostituta e drogada e que agora leva uma vida tranquila com seu marido pastor, contrariando Shirley, seu alter-ego, de voz melosa e amores tórridos. O livro é fantástico e a personagem tem um valor incalculável nele.
Adoro Fermín de uma maneira difícil de explicar. Ele não é realmente uma personagem traumática, mas adorável à sua maneira, sempre com muitas histórias para contar e escudeiro fiel de Daniel. Além disso, sua história é em sua essência riquíssima, marcada por momentos difíceis e pela passagem de pessoas que muito lhe ensinaram e com ele aprenderam.
No mais, gostaria de lembrar a todos que hoje é aniversário da Letícia, nossa blogueira amiga no Na Parede do Quarto. Deixo meus parabéns com muito carinho a ela, que todos os seus sonhos se realizem e que seu caminho seja regado de muito sucesso. Um grande beijo, Letícia!
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