01 setembro 2012

Sobre literatura e personagens traumáticas

Fonte: Asha Produção
Um livro pode chamar a atenção pelo enredo, por uma narrativa poética, por um autor famoso e por diversos outros quesitos... Certos livros, contudo, ganham valor de grandes obras e se tornam inesquecíveis para seus leitores apenas pelo poder de uma personagem.

Acredito que para todos os leitores haja uma caracterização dessa personagem traumática, que fica marcada por sua intensidade e pela sensibilidade do autor ao compor uma persona às vezes tão próxima da realidade e noutras tão distante... Na literatura, a personagem traumática pode ser homem, mulher, louca, doentia, irritantemente sã, sagaz, apaixonada, fria, tórrida ou dotada de tantas outras qualidades que a tornam única para quem a desvenda.

Abaixo, deixo uma relação de algumas personagens que me marcaram muito particularmente e que provavelmente o fizeram e ainda farão com tantos outros leitores.

Capitu, de Dom Casmurro
Acredito que de toda a lista Capitu seja a mais traumática, em nome de sua personalidade múltipla e dos vários mistérios em torno dos quais o ponto de vista de Bentinho a envolvem. Capitu tem os famosos olhos de ressaca, um jeito meio debochado, dissimulado... oblíquo. Machado de Assis é Machado de Assis, afinal.

Aureliano, de Cem Anos de Solidão
Entre as tantas personagens do clã dos Buendía, Aureliano, o primeiro filho de José Arcadio e Ursula, o coronel, está para mim como a melhor representação do conceito da solidão evocado por Gabriel García Márquez. Anarquista, senhor das guerras, quieto e eterno perdedor, é o grande nome da obra.

Lolita, de Lolita
Lolita, Dolly... Lô é a menina dos olhos da obra de Vladimir Nabokov, cheia de malícia, menina e moleca, a representação pura da lascívia e também uma incógnita, como tantas outras coisas na obra do autor russo. Lolita, como o livro do qual ela faz parte e o qual carrega seu nome, é uma personagem forte e difícil de se digerir, mas que vale a pena.

Serena, de Serena
Serena é a personagem mais nova desta pequena lista. Longe de ser a mais marcante, mas a qual faz jus ao seu lugar entre as outras. "Espiã", bela e cobiçada por homens de diferentes lugares, movidos pela curiosidade em torno de sua personalidade tanto matemática quanto literária, mostrou-se como um enigma interessante.

Lavínia, de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
Apesar de não ser fã de comparações, a Lavínia de Marçal Aquino está para mim como uma Capitu moderna, no entanto numa versão mais forte, apaixonada e extremamente intensa. Sua personalidade oscila numa versão doce da mulher que foi prostituta e drogada e que agora leva uma vida tranquila com seu marido  pastor, contrariando Shirley, seu alter-ego, de voz melosa e amores tórridos. O livro é fantástico e a personagem tem um valor incalculável nele.

Fermín, de A Sombra do Vento e O Prisioneiro do Céu
Adoro Fermín de uma maneira difícil de explicar. Ele não é realmente uma personagem traumática, mas adorável à sua maneira, sempre com muitas histórias para contar e escudeiro fiel de Daniel. Além disso, sua história é em sua essência riquíssima, marcada por momentos difíceis e pela passagem de pessoas que muito lhe ensinaram e com ele aprenderam.

Alguma dessas personagens também foi traumática pra você? Ou foram outras? Deixe seu comentário para que criemos uma discussão construtiva sobre esses tantos ícones da literatura.

No mais, gostaria de lembrar a todos que hoje é aniversário da Letícia, nossa blogueira amiga no Na Parede do Quarto. Deixo meus parabéns com muito carinho a ela, que todos os seus sonhos se realizem e que seu caminho seja regado de muito sucesso. Um grande beijo, Letícia!



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