29 janeiro 2013

Fragmentando Memórias Póstumas de Brás Cubas

Quem lê o blog já está cansado de ouvir-me citar Machado de Assis para lá e para cá. Coincidentemente, no entanto, nunca havia lido uma das obras mais importantes da tríade que o consagrou como um modelo do Realismo brasileiro, composta por Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas (não nesta ordem cronológica). 

Pensando nisso, então, trago-lhes hoje alguns fragmentos desta obra prima que, como muitos já sabem, tem um morto como narrador. E uma dedicatória nada sutil aos vermes que corroem seu corpo. Irônica como o autor sempre consegue ser, de uma ironia ácida e refinada. Porque Machadão é sempre merecedor de mais algum espaço.
Dedicatória:
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.Memórias Póstumas de Brás Cubas - Ed. Lafonte
"Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício hediondo."
p. 60 - Memórias Póstumas de Brás Cubas - Ed. Lafonte
"Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem..."
p. 115 - Memórias Póstumas de Brás Cubas - Ed. Lafonte
"Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar..."
p. 116 - Memórias Póstumas de Brás Cubas - Ed. Lafonte
"Digam o que quiserem dizer os hipocondríacos: a vida é uma coisa doce."
p. 149 - Memórias Póstumas de Brás Cubas - Ed. Lafonte
"Leitor ignaro, se não guardas as cartas da juventude, não conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas, não gostarás o prazer de ver-te, ao longe, na penumbra, com um chapéu de três bicos, botas de sete léguas e longas barbas assírias, a bailar ao som de uma gaita anacreôntica. Guarda as tuas cartas da juventude!"
p. 161 - Memórias Póstumas de Brás Cubas - Ed. Lafonte
Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
Estou meio ausente nos blogs amigos, mas voltarei com as atividades normalmente. Passei na universidade, gente!

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