05 fevereiro 2013

Leviatã: A Missão Secreta, de Scott Westerfeld

Steampunk foi o gênero selecionado para o desafio que realizamos no blog em 2013. Meio diferente do padrão habitual de livros com o qual a grande maioria dos leitores está habituada, foi descrito pelas palavras do próprio Scott Westerfeld como uma mistura entre futuro e passado. Dada a sua natureza, então, Leviatã  não poderia ter sido uma leitura diferente ao mostrar a 1ª Guerra Mundial de uma perspectiva fictícia, na qual as grandes potências se dividem entre darwinistas e mekanistas, e a imaginação de qualquer leitor deve ir muito adiante a fim de compreender e materializar as construções excêntricas da mente de seu autor.

O ano, aparentemente, é 1914. Em uma noite qualquer, o jovem Alek é despertado da cama por seus servos com a súbita notícia de que deve deixar seu lar, numa fuga real. O motivo, que ele virá a descobrir mais tarde, foi o assassinato de seu pai, o arquiduque da Áustria-Hungria, Francisco, e de sua mãe, Sofia. Mas um fato que na vida de qualquer civil seria unicamente dor e perda acabou se tornando, para o príncipe e vário impérios europeus, o estopim da eclosão de uma Grande Guerra. E de uma incessante fuga numa construção mekanista que ele deve dirigir.

Do outro lado da narrativa, oriunda de uma realidade completamente distinta, há Deryn Sharp, uma garota apaixonada por balonismo e aeronáutica - uma paixão que aprendeu com o pai falecido - e que sonha em fazer carreira militar. Sofre, todavia, por ser mulher e não poder se alistar, o que resultará num verdadeiro ato de ousadia de sua parte: fingir ser um garoto, Dylan, e partir a bordo de uma gigantesca construção darwinista pelos ares, o Leviatã. Os dois jovens, então, que nada têm em comum e até mesmo poderiam se tornar inimigos, em nome da guerra, acabam tendo seus caminhos cruzados quando a aeronave aterrissa de emergência nas terras em que o herdeiro está refugiado.

Analisando o livro de um contexto geral, é imprescindível destacar o quão visual toda a narração de Scott Westerfeld é neste primeiro volume - juvenil e Steampunk, simultaneamente. Repleto de descrições que possam sintetizar para o leitor o universo completamente exótico de máquinas e criaturas inimagináveis, Leviatã pode soar meio cansativo, ao início, embora contenha em doses semelhantes a sua parcela de genialidade. Porque, querendo ou não, é diferente de tudo que tenho lido nos últimos tempos.

Entre as várias criações do autor, o destaque da obra fica por conta dos grupos antagonistas e talvez complementares - como podemos descobrir mais tarde -, os tais dos darwinistas e mekanistas. Estes, mais comuns ao gênero, reúnem máquinas com motores da engenharia avançadíssima do século XX, capazes de materializarem enormes monstros e tanques de lataria. Aqueles, por outro lado, ganham facilmente a atenção de quem os lê por sua inventividade. Como o próprio nome diz, remetem a incríveis trabalhos (fictícios, claro) de Darwin em que as "cadeias vitais" (vulgo DNA, atualmente) de animais são recombinadas a ponto de dar vida a gigantescas criaturas e novas espécies. A aeronave em que Deryn viaja, por exemplo, é a combinação de uma baleia, grupos de morcegos, lagartos, lagartas, abelhas e outros bichos que, juntos, formam algo de outro mundo, com certeza. Herege, sob a visão mekanista.

Em se tratando de personalidades, Deryn é quem mais chama atenção por sua coragem. Ainda que divida a narrativa em capítulos alternados com Alek e que não tenha em si o sangue da nobreza (eikeryca), dispõe de carisma de sobra para conquistar o leitor. Especialmente o mais jovem, pois volto a reforçar que a obra em questão exige, acima de tudo, muita imaginação. Talvez também um pouco de disposição e deslumbramento pelas enormes descrições, acompanhadas, em algumas páginas, por brilhantes ilustrações de Keith Thompson.

Leviatã foi uma leitura apática para mim. Às vezes me deixava entediada, noutras me fazia correr ao longo da narrativa para saber o que viria a seguir. Para quem estiver buscando por algo exótico, todavia, merece, sim, seu minuto de atenção. Ou mais, quem sabe. Porque a história em si é também promissora e ainda contará com dois volumes sucessores, muitas batalhas e boas aventuras vividas por Alek e Deryn, em meio ao louco - adjetivo enfático - universo científico do steampunk.

Informações técnicas
Título: Leviatã
Título original: Leviathan
Autor: Scott Westerfeld
Tradução de: André Godirro
Editora: Galera Record (exemplar cedido em parceria)
Número de páginas: 365
ISBN: 978-85-01-09758-3
Gênero: Ficção americana; Steampunk; Ficção científica

Nascido no Texas, Scott Westerfeld é autor de diversos romances aclamados para adultos e jovens, entre eles Tão ontem, Os primeiros dias e a série Feios, bestseller do The New York Times. É também designer. Atualmente vive entre Sydney e Nova York.




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