20 março 2013

Precisamos Falar sobre o Kevin, de Lionel Shriver

Kevin Khatchadourian é o jovem de 16 anos responsável pela chacina que matou nove pessoas em seu colégio. Apesar de parecer um grande spoiler, essa premissa é apenas o plano de fundo do thriller psicanalítico que descreve a angústia da mãe de Kevin, que escreve em cartas ao pai ausente do menino. As cartas são escritas por Eva Khatchadourian, que carrega o pesado fardo da culpa pelos atos do seu filho.

O livro começa de uma forma lenta e bastante descritiva e que, apesar de bem chata, é muito importante pra que se entenda tudo o que se passa na cabeça de Eva, uma mulher que sabe o quanto sua vida mudou depois do nascimento de seu filho e depois da quinta-feira que marcou sua vida de uma forma tão absurda. A história é narrada de um jeito a descrever o período anterior ao Kevin, o conturbado período com ele e aquele que veio depois do massacre. 

A sinceridade na escrita é impressionante. A mãe de Kevin não teme em momento algum descrever seus sentimentos em relação ao filho. Ela nunca o desejou e quando ele nasce, fica bem claro que ele também não a queria pois, minutos depois de nascer, ele a rejeita. Kevin é, desde pequeno, um garoto carregado de ódio e maldade, que age calculadamente manipulando todos os que estão ao seu redor para que façam o que ele deseja. Em muitos momentos do livro, fica bem claro que o jovem despreza a mãe e há cenas pesadas e que machucam, sem piedade, o leitor. 

O livro é cruel e não teme demonstrar a que veio. Recheando suas páginas com ironias e calculismos, Lionel acerta na hora de nos deixar impactados com a relação de competitividade que se passa entre Eva e Kevin, que estão sempre disputando a atenção de Franklin, pai do menino, que não vê o que se passa em sua própria casa, por ser extremamente manipulado por Kevin, que usa, durante todo o livro, artifícios que convencem o pai da sua inocência em relação às acusações da mãe. 

Kevin mata porque pode, mata porque quer e mata por crueldade, e é nesse fato que sua maldade é evidenciada. Não, ele não sofre bullying ou qualquer tipo de perseguição na escola, o que torna o livro muito mais denso. Na literatura, eu nunca havia me deparado com tamanha frieza e apatia em apenas um personagem, que jamais demonstra fraquezas ou sentimentos. O único momento que Kevin parece demonstrar o que sente, fica uma dúvida sobre veracidade do que ele está dizendo.

Apesar de estar em minha lista de livros que mais mexeram comigo, eu não o leria novamente pois a carga emocional que o acompanha não é pra qualquer um. A maldade humana me chocou de uma forma inexplicável, mas, apesar de tudo, eu o indico a qualquer um que tenha estruturas. 
Fernanda Evangelista

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