16 maio 2013

Meu amor, meu bem, meu querido, de Deb Caletti

A primeira impressão que se tem deste livro e de sua protagonista é semelhante àquela causada por alguns juvenis da autoria de Meg Cabot. Ruby tem 16 anos, não é a garota mais popular da escola (nem tampouco é oprimida, mas apenas "calada", como ela se define), está envolvida num romance meio complicado e adora empregar ironia em comentários absolutamente irrelevantes como se fosse a coisa mais engraçada do mundo; quando não é, claro. Mas nem mesmo os livros vivem apenas de primeiras impressões.

Dona de um tom de sarcasmo que aos poucos vai se alinhando à narração, a protagonista de Meu amor, meu bem, meu querido não tem uma personalidade tão instigante quanto aquelas que outras personagens deste mesmo gênero têm. Conta a seu favor, todavia, com uma história leve e às vezes bizarra que traz em sua essência uma mensagem simples - sem floreios literários - sobre amor, família e união.

Tudo começa na cidade de Nine Mile Falls, num verão em que os paraquedistas planam numa rua perto da casa de Ruby McQueen e um vizinho vindo de longe chega. Morador de verdadeira mansão, Travis Becker é tão jovem quanto ela, lindo, e não nega o gosto forte por adrenalina em situações perigosas, o típico mauricinho. Num encontro ocasional, então, passa a ver na moça uma pessoa corajosa e disposta a acompanhá-lo como parceira romântica em suas missões. Ela, talvez um tanto quanto deslumbrada pela atenção que recebe do rapaz cobiçado, passa a alimentar uma relação nada saudável, que a faz agir de uma forma que não gostaria, além de viver mentindo para a mãe.

Sua mãe, Ann, aliás, também compartilha dos problemas amorosos. Após ser abandonada pelo pai de Ruby e de Chip Jr. - irmão caçula da protagonista -, não resiste a aceitar as visitas raras que o cantor de estrada faz a sua casa e ao seu coração, conturbando a vida simples e incompleta da bibliotecária. 

As coisas mudam, porém, quando Ann decide levar a filha a um clube de leitura semanal que comanda, chamado Rainhas Caçarolas. Lá, senhoras idosas se reúnem para ler juntas e conversar a respeito de diferentes romances. Até o dia em que descobrem que uma de suas companheiras pode ser a protagonista de uma triste história de amor vivida na juventude e, a partir daí, planejam um encontro romântico marcado há décadas e partem numa viagem rumo ao nobre sentimento que norteará seus corações de maneira especial.

Johnny Depp sobre mocinhas de 16 anos que não são populares na escola, mas não se importam com isso porque são autênticas e caladas...

Sobre a tal história das primeiras impressões, ainda acredito que o leitor possa se cansar de Meu amor, meu bem, meu querido antes da hora certa. Isto porque - depois de algumas 100 páginas de um romance que não cativa (e que sequer se parece com um romance) e de uma protagonista que é tão comum quanto outras -, a problemática pouco se desenvolve. Quando Deb Caletti, enfim, insere a história das Rainhas Caçarolas, todavia, consegue ganhar a simpatia de seus interlocutores. Elas são idosas engraçadas, cheias de causos para contar e com um outro inimaginável para viver.

A viagem, aliás, é a melhor parte de todo o livro. Cheia de diálogos e de situações cômicas, trouxe-me, inclusive, ainda que leves, reminiscências do adorável longa Pequena Miss Sunshine. Naquele mesmo estado de espírito contagiante em que todos partem juntos numa aventura em nome da alegria de uma pessoa especial: unidos pela amizade, pela solidariedade e pela gratidão.

Não aconselharia, por fim, a leitura de Meu amor, meu bem, meu querido como um romance que quer ser levado a sério, mas simplesmente como uma história meiga, leve e, principalmente, uma história capaz de provocar um sorriso em seu rosto após um dia extremamente chato, quando nada parecer dar certo.

Foto: Deb Caletti.com
Informações técnicas
Título: Meu amor, meu bem, meu querido
Título Original: Honey, baby, sweetheart
Autora: Deb Caletti
Tradução de: Maysa Monção
Editora: Novo Conceito (exemplar cedido em parceria)
Número de páginas: 238
ISBN: 978-85-8163-158-5
Gêneros: Ficção estadunidense

Deb Caletti e sua família vivem metade do tempo no subúrbio de Seattle e outra metade em um barco, num tipo de casa flutuante. Suas melhores inspirações vêm de sua mãe, seus filhos e de seu cachorro, os quais não parecem se importar. Quando não está escrevendo ou lendo livros, Deb se dedica à pintura e a aulas.

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