27 fevereiro 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Título original: (Hugo)
Lançamento: 2012 (EUA)
Direção: Martin Scorsese
Atores: Asa Butterfield, Chloe Moretz, Emily Mortimer, Jude Law.
Duração: 126 min
Gênero: Aventura
Status: Em cartaz

É fácil reconhecer um grande filme quando estamos diante dele. Desde o distante início, a propósito, esperava por um belo juvenil da parte do diretor, Martin Scorsese, mas me surpreendi de maneira gratificante com uma história delicada, que redireciona seu enredo muito habilmente para as belezas e o fascínio do cinema antigo. Baseado em livro homônimo, A Invenção de Hugo Cabret tem um brilho natural, sendo verdadeiramente impecável em todos os aspectos possíveis: técnico, roteirístico, histórico, visual, etc, etc.

Logo no início, somos introduzidos, na Paris de 1930, ao mundo de Hugo (Asa Butterfield), um menino órfão que vive nas paredes de uma estação ferroviária a consertar relógios e dar corda neles. Esta habilidade de lidar tão bem com tais mecanismos é a única lembrança que carrega de seu falecido pai, além de um autômato quebrado herdado do mesmo, um "robô" antigo, por assim dizer, capaz de reproduzir movimentos humanos com as combinações motoras corretas. Disposto a reconstruí-lo, acreditando sinceramente tratar-se de uma mensagem póstuma do patriarca, Hugo vai em busca dos instrumentos necessários para a sua montagem, especialmente uma chave em formato de coração, e acaba dando numa loja de brinquedos da estação onde um senhor, George, ao lado de sua afilhada, Isabelle (Chloe Moretz), demonstra ter alguma ligação com o contexto que envolve a complexidade do autômato. Juntamente da menina, que acaba tornando-se sua amiga muito sutilmente, o protagonista consegue, enfim, dar vida ao mecanismo e a mensagem que o aguarda é enigmática: responsável por conduzi-los numa bela aventura pelas entranhas da estação e os remotos primórdios do cinema fantástico.

É sensacional a mistura de elementos culturais com as quais o filme lida. A atmosfera de A Invenção de Hugo Cabret é uma homenagem artística a parte, envolvendo, num apanhado geral, literatura, música e a sétima arte com paixão e fluidez dignas de um cineasta distinto e inovador como Scorsese. O que era para ser infantil, a propósito, traz consigo toda uma aura serena, capaz de provocar risos e enormes sorrisos nos rostos de espectadores de todas as idades.

O enredo delicado mexe com as maiores alegrias e tristezas da humanidade, cheio de vida pulsante e uma inocência descompromissada. Fica por conta do cenário grande parte do encantamento que é comum sentir ao assistir a filmes de tal categoria. Somos constantemente embalados pelo modo de vida da sociedade francesa que se utilizava dos trens na época, efusiva em suas clássicas músicas e danças, na beleza de suas flores frescas e coloridas, na graciosidade de seus figurinos e sua efervescência inspiradora. Também, principalmente, haverá o espectador de simpatizar com Hugo Cabret e sua inteligência precoce, sua vontade de mudar o mundo e ser uma peça única no mecanismo terrestre. Isabelle vem para complementar o menino, a amiga inteligente e bondosa, apaixonada por livros e deslumbrada com a possibilidade de viver uma aventura real, fora das páginas que tantas vezes lhe acolheram.

Muito habilmente, o autor desta história soube implantar, em meio à toda fantasia, uma homenagem a um cineasta real, que viveu na época em que o filme é retratado. Georges Méliès (1861 - 1938) foi um ilusionista de sucesso e precursor do cinema, grande incentivador do uso de equipamentos fotográficos para a criação de efeitos fantásticos. Responsável pela produção de mais de 500 filmes, um de seus longas mais famosos é indicado, até hoje, no livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer, Le voyage dans la Lune, de suma importância no enredo de A Invenção de Hugo Cabret, a propósito.

Deparar-se-á aqui com algo distinto, bonito - no sentido mais amplo da palavra -, refinado e também simples, com valores comuns, acrescidos do mecanismo fantástico da imaginação humana. Sem sobrenaturalismos ou cenas dignas do título de clichê, o filme, com a realidade e uma pitada de infância e viço, consagra-se em 2012 no cenário profissional com 5 prêmios da academia do Oscar advindos de 11 indicações e no coração de seus gratos espectadores com uma brisa de novidade e tradicionalismo que, juntos, tornam A Invenção de Hugo Cabret uma atração deliciosa, capaz de enternecer, nem que por segundos, o mais bravo e insaciável aventureiro das estradas do cinema.


E para os interessados, a página do livro no Skoob: A Invenção de Hugo Cabret, que promete ser tão bom quanto o filme, segundo seus resenhistas.

Uma boa segunda-feira a todos,

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