"Eu sabia que Logan abriria mão de carros, faculdade e comida por uma chance de se tornar uma estrela do rock. Ele venderia sua alma e não sentiria falta dela nem por um segundo. Porque, até que todas as pessoas no mundo o amassem, aquela alma não lhe servia para nada."

Um evento conhecido como a Passagem foi o que conferiu não somente à Aura, mas a todos os outros jovens nascidos desde aquele 21 de dezembro, 16 anos antes, a capacidade de ver os mortos que, por algum motivo, ainda não estão em paz com seus fins e precisam resolver problemas terrenos para ir embora de uma vez por todas. Ao contrário do que se lê em algumas ficções, na concepção de Jeri Smith-Ready, os fantasmas assumem a forma idêntica à do humano em questão no dia mais feliz de sua vida, contudo sem qualquer sensibilidade ao toque, plasmáticos e numa coloração roxa.
"Logan estava parado ao pé da cama, camisa aberta e cabelo desgranhado, exatamente como ele estivera havia alguns minutos.Com todos os empecilhos do relacionamento, ainda que Logan e Aura não possam se tocar e sentir um ao outro, ainda que ele não possa visitar outros lugares nos quais não tenha estado em vida e acompanhar muitos acontecimentos novos na trajetória da moça, o amor os mantêm unidos com força. O contrário do que acontece com Zachary, um aluno novo da escola, muito simpático e interessado na amizade dos dois, estranhamente vivo.
Só que agora ele estava roxo."
Um primeiro aspecto a se ressaltar é o ritmo da narrativa, que transcorre rapidamente com as tantas problemáticas do enredo, um pouco melancólico, mas voraz como a sua própria juventude. Habilmente, desta forma, Nas Sombras mistura romance, sobrenaturalismos, boas doses de música e conceitos comuns sobre a morte e a vida que despertam diversas interpretações e pensamentos de seu leitor sem escassez ou excessos, tudo numa medida ideal para despertar a atenção do público-alvo.
Como em muitas outras ficções juvenis, há aqui a presença de um triângulo amoroso. Não daqueles repentinos nos quais o autor praticamente obriga seu leitor a aceitá-los, mas sublime, que se desenvolve lentamente e é rondado por diversos fatores externos, envolvendo especialmente o turbilhão sentimental de Aura, confusa por ainda estar apaixonada por seu namorado e atraída por um garoto real. Igualmente bem sucedida é a formação das personagens com suas particularidades e uma humanidade palpável. Com o tempo, apesar de todos os fatos, passei a me sentir na pele da própria protagonista, narradora da história, e desenvolvi certa afeição por Logan, tamanha a paixão que cultivaram com o tempo em vida e a força que tiveram para mantê-la em sua morte. Mas engana-se aquele que pensar que Zachary fica para trás, muito opostamente, este talvez será o conquistador da maioria, tamanha a sua doçura e paciência em esperar pela jovem.
Coadjuvando a problemática neste primeiro volume, temos a busca de Aura pelas respostas do mistério que envolvem o acontecimento da Passagem e o sumiço de seu pai desconhecido, além da participação de outras personagens que provavelmente virão a ter mais importância numa eventual continuação.
Num apanhado geral, trata-se aqui de um livro interessante, criativo, intenso e eloquente, com voz própria muito clara em meio aos tantos lançamentos do segmento que prometem os mesmos fins. Aos leitores que eventualmente buscarem por novidades e emoções no gênero fictício, deixo minha sincera indicação de conhecer a história destes que se ligam em morte e em vida, apesar de todos os contratempos, na luz e Nas Sombras.
"- O mesmo se aplica às respostas que você procura - disse ela. - Você não vai encontrá-las encarando as perguntas fixamente até seus olhos caírem. Elas vão aparecer quando você estiver olhando para outra coisa. - Colocou a mão macia sobre meu ombro. - Mas vão aparecer."Informações técnicas
Título: Nas Sombras
Título original: Shade
Autora: Jeri Smith-Ready
Tradução de: Rodrigo Abreu
Editora: Galera Record - cortesia
Número de páginas: 335
ISBN: 978-85-01-08821-5
Gênero: Ficção juvenil americana

Uma boa terça-feira a todos,
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