04 agosto 2012

A Noiva do Tigre, de Téa Obreht

Quando perguntam-me sobre os livros que leio no momento, pedindo para que faça breves resumos de suas histórias, costumo dissertar bastante e até mesmo divagar no universo do exemplar em questão. Com A Noiva do Tigre, entretanto, confesso ter tido certa dificuldade para falar a respeito dele, simplesmente porque sua premissa foge completamente do convencional e por haver algo de muito amplo em se tratando dos núcleos de suas personagens.

Repleto de lendas dos povos do Leste Europeu, de uma linguagem amplamente descritiva (por vezes até cansativa) e tendo rendido o prêmio de vencedor do Orange Prize 2011 para Téa Obreht, temos aqui especialmente a história da jovem médica Natalia, que está sofrendo com a recente perda do avô, a quem era muito apegada em vida e com o qual mantinha segredos e cumplicidade distantes de toda a família. Por detrás de sua morte, entretanto, a moça se vê diante da possibilidade de descobrir fatos místicos que o patriarca tinha vivenciado e que possam explicar o seu desaparecimento anterior à partida, como a história do homem sem morte e a mais tocante, responsável por dar nome ao livro, a da noiva do tigre.

Com uma narrativa de tempo psicológico na qual os fatos oscilam entre o presente de Natalia, sua missão de paz num vilarejo pobre com as crianças doentes de um orfanato e as diversas lendas que remetem à morte de seu avô, A Noiva do Tigre tem início num ritmo lento e consideravelmente complicado de se acompanhar, inclusive, até a síntese do leitor do que, de fato, trata-se essa história distinta.

De caráter notavelmente folclórico em que várias lembranças se entrelaçam, desde os tempos de guerra até o desenvolvimento e a morte, é um romance que exige toda a atenção possível do leitor aos diversos personagens que têm seus caminhos ligados para formar o enredo. Personagens estes que, a propósito, pareceram-me especialmente sem carisma, os quais, em raras exceções, pouco me cativaram.

Entre as exceções posso citar o homem sem morte, Grané, que esbanjou todo o tempo um caráter de ceticismo e de superioridade em relação aos outros simplesmente por conhecer os segredos da Morte. Sua história também veio a acrescentar para que as páginas nas quais estava contida passassem mais rapidamente  e me convencessem de que tinha em mãos, afinal, um grande livro. Não posso deixar de destacar também o protagonista desta obra, ainda que de maneira indireta, foi a todo o tempo o avô de Natalia. Ele, que através de suas lembranças e de sua memória, guiou-a para a descoberta de uma realidade em que o fantástico e o inesperado se unem aos fatos corriqueiros e à evidente carência de um país após longos períodos de guerra e faina.

Ainda que não seja das leituras a mais envolvente, é inegável o mérito da autora ao transcrever suas palavras para as páginas. Dona de um detalhismo muito rico e visivelmente maestra de sua escrita, Téa Obreht vem com uma proposta distinta e ousada ao mesclar folclore num meio de médicos, descrentes e desamparados. Histórias que a própria razão humana não explica, mas que apenas o coração o faz. Histórias em que um homem leva um tiro e pede apenas por água, em que um grupo de trabalhadores rurais acredita ter de desenterrar um morto para curá-los da doença, em que uma moça surda-muda zela por um tigre e, ainda mais corajoso, um jovem menino olha pelos dois, em vida, em morte, eterno.
"Zóra era uma mulher de princípios. Uma ateia assumida. Aos treze anos de idade, um padre lhe disse que animais não tinham alma, e ela disse: - Bem, então vai se foder, Papa - e saiu da igreja [...]". p. 18
"Meu avô correu novamente. A noiva do tigre corria ao seu lado, agarrando-lhe as mãos como se fosse cair. Respirava fundo e rápido, com pequenos sons saindo de sua garganta. Meu avô esperava que ela chamasse o tigre de alguma forma, mas não sabia como o faria, nem se devia segurar sua mão ou ser segurado. Estava certo de que poderia correr mais rápido, mas a noiva do tigre tinha o outro braço sobre a barriga; manteve o passo com ela, junto ao seu corpo bem agasalhado e aos seus pés nus, segurando-lhe os dedos com força." p. 220
Informações técnicas
Título: A Noiva do Tigre
Título original: The tiger's wife
Autora: Téa Obreht
Tradução de: Santiago Nazarian
Editora: Leya (cortesia)
Número de páginas: 278
ISBN: 978-85-8044-106-2
Gênero:  Literatura inglesa; ficção

Téa Obreht nasceu em 1985 na Iugoslávia. Ao completar doze anos de idade ela foi para os Estados Unidos. Aos 25 anos ela já escreveu para vários veículos jornalísticos, como The New Yorker, The Atlantic, Harper’s e The Guardian, e publicou suas narrativas ficcionais nas coletâneas The Best American Short Stories e The Best American Nonrequired Reading. Ela conquistou também o Orange Prize de melhor romance de 2011, tornando-se a escritora mais jovem a receber esta premiação. Hoje ela reside em Nova Iorque.

Bom domingo a todos!


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