16 agosto 2012

À procura do livro que quebre a rotina

Fonte: Tumblr
Qualquer dia desses estava conversando com uns colegas até que, como é de praxe com a blogueira que lhes fala, a conversa caiu no ramo literário. Perguntaram-me como eu lia tanto e se era um costume que trazia há bastante tempo, ansiosos para saber de onde provinha toda essa fome literária. De maneira muito natural, então, como algo que tenho claro em minha mente, respondi que já era um costume e que o grande mistério por detrás do enigma dos leitores assíduos era, em sua matéria, muito mais simples que aquele que aparentava: a rotina, dura e implacável. 

Tanto quanto eu acordo cedo todos os dias para ir à escola, tanto quanto estou pontualmente esperando pelo ônibus às quatro horas, quanto caminho até o curso, levo a Belinha para passear nas manhãs de sábado, passo perfume antes de sair de casa, olho o horário no celular duas vezes para me certificar de que vi certo... Tanto quanto qualquer elemento aleatório - mas obrigatório - em meu cotidiano, leio. E não o faço pensando que é apenas mais uma tarefa a cumprir, contudo uma quebra necessária em meio a um período tão cheio de tarefas e tão sufocado pela ausência do tempo. A leitura está para mim como aquele momento breve de transição, entre o almoço e a primeira chamada do Jornal Hoje, em que poderia estar simplesmente com a barriga para o alto reclamando de como o dia deveria ter mais horas e do quão chato será enfrentar uma fila de segunda-feira na lotérica para pagar os boletos mensais...

Confessou-me daí um conhecido que o seu grande problema era a impaciência. Ler dá sono. Livros são cansativos. Não consigo passar de 200 páginas. Presto mais atenção à televisão. Discordei com muita ênfase, pois sou crente ferrenha de que o maior problema de quem não lê seja, independentemente de idade e vivência, não ter achado o livro que o conduza a um caminho ideal. Mais ou menos como diz aquele título de Clarice Lispector, O Livro dos Prazeres, a obra cuja leitura pode ser demorada ou não, responsável por uma soneca vez ou outra, um romance barato de fast-food ou um clássico meio amargo para ser levemente degustado, mas sempre um intermezzo cadente entre os atos da grande rotina teatral que é a vida.

Atente-se, descobridor: procure pelo livro ideal por todas as partes. Zarpe nos cais de obras esquecidas ou nos portos repletos de gente dos best-sellers. Vá à Bahia dar um alô a Jorge Amado, passe pelo Cosme Velho para compreender a Capitolina do grande bruxo carioca. Ouça as histórias tristes e também felizes de Markus Zusak, que fala de guerra e de vida vadia com a mesma desenvoltura. Entre em Hogwarts e descubra se você funciona em alguma das quatro casas. Se não funcionar, não se desespere: aporte em outras escolas, caminhe por outras florestas, visite os mares nunca dantes navegados. Aproveite seus 10 minutinhos de intervalo e vá ser feliz, aqui tudo é liberado! Apaixone-se por Mr. Darcy, pela solidão do coronel Buendía, por Percy Jackson ou Edward Cullen. Garanto que ninguém vai se importar... Tente ler Ulisses e se não conseguir, desista como quase todos os outros leitores fizeram. James Joyce pode suportar mais essa adaptação. Não se acanhe caso o misticismo de Paulo Coelho lhe convença ou a espiritualidade de Zibia Gasparetto lhe intrigue. Apenas leia, descubra os mundos criados por outras pessoas e, principalmente, descubra a si mesmo.

Em minha última aula de redação, o professor comentou sobre a famigerada tensão pré-redação de vestibular. Disse que, realmente, é imprescindível ler os clássicos requeridos pelas universidades ou ter um conhecimento considerável sobre as obras que, com toda a certeza, serão abordadas. Mais que isso, entretanto, confessou-nos que o grande barato de uma redação não era conhecer os livros da lista até o avesso se nenhuma outra leitura estivesse presente em nossas vidas. O grande barato, para ele, é apenas ler. Com ou sem glamour, moderninho ou antiquado, sobre satanismo ou sobre os mistérios da alma, romances adolescentes ou traições entre irmãos, se você tiver o hábito constante de ler, tudo parecerá, repentinamente, mais simples, a rotina chata e enfadonha, por aqueles breves minutinhos, valerá a pena. E como disse uma vez o sábio Albert Einstein, a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.



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