15 setembro 2012

Resposta Certa, de David Nicholls

Apesar de insistir em dizer que começar um livro com muitas expectativas acaba com a sensação de desfrute que temos a uma primeira leitura, foi inevitável não imaginar que, por ser da autoria de David Nicholls, o incrível autor de Um Dia, teria aqui mais um exemplar com uma ótima e memorável história, um turbilhão de emoções regado a boa ironia. A verdade é que, mais uma vez, entretanto, ir com tanta sede ao pote não deu certo. Resposta Certa é divertido, rápido de ser lido e bem-humorado, mas não se pode esperar muito mais que entretenimento.

O narrador desta vez é Brian, um rapaz de origens simples, com poucos amigos, muitas espinhas no rosto, tido como nerd por todos e que está prestes a ingressar na turma de Literatura Inglesa de uma das universidades mais cotadas do país. É neste clima de grande empolgação pelo que está por vir que ele se despede de Spencer e Tone (seus melhores amigos fracassados) e de sua mãe, a qual ficará sozinha pela primeira vez desde a morte do pai. Este, ela ainda garante, ficaria orgulhoso de presenciar o grande progresso que o filho único está tendo.

Ao chegar à universidade, crente de que sua vida mudará e ele mesmo terá uma nova versão de si - mais propensa a debates intelectuais, com bom gosto para vinhos e defesas políticas estáveis -, o protagonista percebe que os jovens dali são semelhantes aos de fora, com algumas parcelas generosas, todavia, de riqueza e genialidade. Temendo não se encaixar em nenhum grupo e, especialmente, não conseguir a grande empreitada profissional e literária de sua vida, o rapaz decide se inscrever no Desafio Universitário, um programa de conhecimentos gerais em que os melhores grupos de grandes universidades inglesas são selecionados para responder a uma série de perguntas avançadas num dado tempo,exibido nas televisões de todo o país. Intimamente, no entanto, a principal razão de querer estar lá é o fato de o Desafio representar as melhores lembranças ao lado do pai, com quem assistia de maneira silenciosa, sonhando com o dia em que ele próprio saberia responder a todas aquelas perguntas.

É em meio também às experiências universitárias de se embriagar e frequentar festas estranhas,em que a turma de Artes Cênicas fuma muita maconha e tentar socializar com as garotas que Brian conhece Alice, uma jovem  linda, simpática, loira e desejada por todos os outros estudantes. O único problema é o fato de ela se mostrar bastante indiferente em relação aos fortes sentimentos do rapaz e, como se não bastasse, a universidade passa a lhe parecer um caminho vago e incerto para qualquer lugar do futuro brilhante citado por todos.

Como narrador-personagem e protagonista, Brian nos passa uma visão bastante desfavorável de si mesmo. Seu pessimismo em vários momentos chega, inclusive, a ser engraçado. Nunca se sente bonito o suficiente, galanteador o suficiente, amigo o suficiente ou inteligente o suficiente. Para ele, toda a sua vida não passa de um grande fracasso e ler os diálogos desajeitados que mantém com as garotas que passam por seu caminho é muito cômico, até o momento em que o pessimismo se torna bastante vago e, por que não, cansativo.

A atmosfera estudantil foi um dos elementos mais interessantes de toda a leitura, explorando quase que fielmente um retrato da juventude dos anos 80, cheia de vida e de otimismo após anos tão duros. Um pouco alienada também, mas exposta de maneira leve conciliada com realidades mais duras, como a de Spencer, melhor amigo de de Brian, inteligente, mas completamente desinteressado em qualquer possibilidade de avanço, seja nos estudos ou no trabalho.

Entre as personagens, destaque para Rebecca, uma comunista da pá virada que vive participando de protestos contra o Apartheid, a discriminação, a pobreza, a corrupção e afins. Estudante de Direito, rabugenta, ressentida, mas sempre muito honesta, é impossível não sentir um grande apreço por ela, ao contrário de Alice, por exemplo, que pouco comove ou impressiona em sua posição de mocinha eternamente cobiçada, de vontades dúbias. Não muito atrás vem Brian, protagonista meio esquisitão, dono de pensamentos peculiares e modos que, apesar de renderem muitas risadas, não conquistam a simpatia do leitor.

A impressão que tive, ao longo de toda a leitura, foi a de que faltava algo. Jovial, irônico e inteligente - o que até me fez lembrar de John Green em Quem É Você, Alasca? -, senti simplesmente que David Nicholls não chegou lá. Garantido mesmo, só o entretenimento; o resto fica a cargo de cada um. 

Informações técnicas
Título: Resposta Certa
Título original: Starter for ten
Autor: David Nicholls
Tradução de: Claudio Carina
Editora: Intrínseca (cedido em parceria)
Número de páginas: 343
ISBN: 978-85-8507-204-9
Gênero: Romance inglês

DAVID NICHOLLS é autor de UM DIA, best-seller mundial presente nas principais listas do país e que vendeu mais de 150 mil exemplares no Brasil. Nascido em 1966, em Hampshire, Inglaterra, formou-se em literatura e teatro inglês, mas optou pela carreira de ator e recebeu uma bolsa da American Musical and Dramatic Academy de Nova York. De volta a Londres, atuou em espetáculos teatrais no Battersea Arts Centre, The Finborough, West Yorkshire Playhouse e Birmingham Repertory Theatre. Entre uma peça e outra, em Londres, Nicholls trabalhava como vendedor da rede de livrarias Waterstone’s, em Notting Hill. Após trabalhos freelance, conseguiu emprego como leitor de peças e pesquisador da BBC Radio Drama, o que o levou à edição de roteiros na London Week Television e na Tiger Aspect Productions. Nessa época, começou a escrever e adaptou a peça de Sam Shepard, Simpatico, que se tornou um filme estrelado por Sharon Stone e Nick Nolte, em 1999. Ao longo de sua notável carreira de roteirista, recebeu duas indicações ao BAFTA. Além de Um dia e de Resposta certa, publicou o romance The Understudy. David vive em Londres com a mulher e os filhos.

Um bom final de semana a todos,




0 comentários: