30 outubro 2012

Sombras da Noite

Tim Burton é um diretor que, de maneira positiva ou negativa, chama sempre atenção para seus novos trabalhos. Em torno de Sombras da Noite - longa lançado neste ano com a participação de atores consagrados como Johnny Depp, Michelle Pfeiffer e Helena Bonham Carter, por exemplo - a atmosfera não poderia ter sido diferente. Especulava-se muito e parece que, ao fim, ninguém acertou realmente qual era o novo universo de fantasia em que a trama de Burton ocorreria. O primeiro engano, na verdade, foi crer que se tratava da tal fantasia quando em sua pura essência, mesmo com vampiros, lobisomens e bruxas, o filme consegue ser bem realista.

Através de uma mistura excêntrica entre humor, romance, drama e sobrenatural, Sombras da Noite conta a história de Barnabas Collins, um rico morador de uma província estadunidense do século XVIII. Meio galanteador, ele se envolve com uma das empregadas da casa, Angelique Bouchard. Desconhece, no entanto, que ao negar-lhe amor, estava não apenas gerando problemas, mas uma grande dor de cabeça ao descobrir que, entre todas as moças, feriu a vaidade de uma poderosa bruxa - e muito vingativa, por sinal. Apaixonado, de fato, por outra mulher, Josette, vê a sua vida fadada à desgraça quando Angelique enfeitiça a mocinha e faz com que se mate. Barnabas, que também preferia ter morrido, é condenado pela bruxa, então, à existência eterna na forma de uma criatura bem popularizada atualmente. Johnny Depp surge daí para dar vida ao personagem como um vampiro branquelo e de unhas longas, o qual permaneceu por centenas de anos aprisionado num caixão e volta em plenos século XX, no auge dos anos 80, disposto a encontrar a nova família Collins e a compreender o mundo dos tempos modernos.

Johnny Depp como Barnabas | Fonte: Adoro Cinema
Imperdível é, inclusive, o primeiro contato de um vampiro aristocrático do século XVIII com sua família decaída em falência nos anos coloridos da disco e do pós-hippie. Tim Burton traz aqui diferentes estereótipos para compor o núcleo, desde a adolescente revoltada até o irmão caçula que sente presenças sobrenaturais e é rejeitado por todos. Como é característico do diretor, cada personagem apresenta algo de sombrio, seja em sua aparência, na maquiagem predominantemente acinzentada ou nos espíritos perturbados. Mesmo a mocinha, que volta reencarnada no século XX como Victoria, tem seu passado com lacunas macabras no hospício e na constante visão de um fantasma implorando ajuda. Todos meio freaks, por assim dizer, mas cada um divertido e curioso à sua maneira.

Humor e ironia foram, a propósito, dois elementos muito presentes em Sombras da Noite. Surgiam nos momentos mais inusitados, contudo sempre bem-vindos. De maneira ácida e mais adulta, o diretor não se preocupou em mostrar cenas com apelo sexual hilário e em fazer até mesmo críticas, daquelas não tão notáveis, em instantes oportunos. Destaque para a cena bizarra em que, logo após sair do caixão, Barnabas vê o símbolo "M" do McDonald's e diz que aquele é Mefistófeles, uma alusão irônica a um demônio tido até mesmo, em algumas culturas, como o próprio Diabo. É como dizem: para bom entendedor, meia palavra basta.

Eva Green como Angelique e mulher fatal | Fonte: Adoro Cinema
Em se tratando de atuação, Eva Green, a bruxa, foi o grande trunfo do filme, bem ao estilo vilã loucamente apaixonada. Johnny Depp, com seus trejeitos de ator sempre esquisitos (reparem em como ele ainda conserva o andar bêbado de Jack Sparrow), interpretou um perfeito Barnabas, espontaneamente engraçado e que viveu um tremendo choque cultural com os anos 80. Helena Bonham Carter aparece como psicóloga bêbada e cumpre seu papel de maneira curiosa, nada como uma Bellatrix Lestrange, mas ainda assim notável. Com Tim Burton, até mesmo a mocinha, pela qual Bella Heathcote ficou responsável, vem cheia de personalidade e sem aquele ar virginal desinteressante de sempre. Outro destaque vai para a trilha sonora que, ao incluir o bom rock dos anos 80 e Alice Cooper no próprio elenco, não poderia ter sido mais bem-sucedida.

Sombras da Noite, por representar um gênero bem indefinido, no geral, e por talvez não ser uma daquelas histórias fantásticas e repletas de surpresas, pode não ser o filme pelo qual você estava esperando. Em contrapartida, fica garantido que ele, com pouca ambição e uma boa dose de Tim Burton, pode vir a ser um grato entretenimento. E bem-humorado, ainda por cima.



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