10 novembro 2012

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

"A vida moral de um homem é parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito."
Prefácio
Sou partidária da opinião que defende que bons começos, quase sempre, conferem forte impacto a toda a extensão de uma obra. E isso, não se pode negar, após um prefácio fantástico, confirma-se em O Retrato de Dorian Gray. Impacto, também, na verdade, é uma palavra ideal para definir a vasta gama de emoções experimentadas pelo leitor ao longo da leitura deste romance genial.

Tido como a obra prima de Oscar Wilde, é um clássico muito celebrado pela Literatura moderna, publicado em sua versão final no ano de 1891. Através de uma linguagem extremamente rica e de uma narrativa que faz um culto ao artístico, conhecemos aqui a história do jovem Dorian Gray, um homem cuja beleza é capaz de influenciar até os menos influenciáveis. Muito vaidoso, quando uma vez pousa para seu amigo Basil e se enxerga no retrato mais perfeito que o mundo já viu, lamenta que, com o tempo, o envelhecimento haverá de roubar sua juventude. Deseja daí, com fervor, que a partir daquele instante, o quadro envelheça e ele, em contrapartida, conserve sua bela aparência. Neste momento, então, é que a grandiosidade de Oscar Wilde entra em ação, quando, de alguma forma surreal, o desejo de Dorian se concretiza e o quadro, antes tão intocado, passa a ser manchado com cada pecado cometido por ele.

Há algo de extremamente parnasiano no culto que este livro faz à forma. Não de uma maneira rasa, apenas falando de como as coisas são lindas e maravilhosas, mas delatora, revelando a enorme futilidade da sociedade humana ao julgar cada qual pela aparência. Dorian entra, assim, como uma grande contradição por carregar tanta beleza naquilo que se pode ver e ser tão horrendo interiormente, capaz das piores atrocidades sem qualquer peso na consciência.
Ben Barnes como Dorian Gray | Fonte: Plastic Flesh Garden
"Escolho os amigos pela boa aparência, os conhecidos pelo bom caráter, e os inimigos pelo bom intelecto."
p. 11
Desde o início, é notável que temos um protagonista em potencial. Uma personalidade extremamente bem composta, a personificação da vaidade que revela tendências narcisistas na obra. Dorian, em alguns aspectos, faz lembrar do Grenouille de O Perfume em sua indiferença sentimental. Ele é soberbo, arrogante, encantador e, mais que todas as outras coisas, cruel.

Apesar de a nossa Literatura contemporânea contar com diferentes recursos sobrenaturais e quase todo o tipo de técnica inovadora que se possa imaginar, quando se lê O Retrato de Dorian Gray, é necessário considerar que o livro foi escrito há quase 200 anos e que, de uma forma notabilíssima, Oscar Wilde foi um homem à frente de seu tempo. Primeiramente, por promover um fato determinante em que homem e arte se alternam e desafiam a razão do tempo. Mais que isso, mostra descaradamente os gostos sombrios de alguns membros da alta elite inglesa à época, frívola e cheia de segredos vergonhosos.

Envolvente em cada página, O Retrato de Dorian Gray, apesar de clássico, não é uma das leituras mais difíceis de se realizar. Mesmo com todo o seu rebuscamento, possui algo de intenso que cria um ímpeto imediatista em seu leitor. Quanto mais se conhece de Dorian, quanto mais se aterroriza com ele; mais também se encanta, mais se quer ler. E não é à toa: grandes livros estão aí para serem lidos mesmo. Este, não tenha dúvidas, é um deles.

Informações técnicas
Título: O Retrato de Dorian Gray
Título original: The Picture of Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Tradução de: Paulo Schiller
Editora: Penguin - Companhia das Letras (exemplar cedido em parceria)
Número de páginas: 260
ISBN: 978-85-63560-43-8
Gênero: Literatura Inglesa; Clássico

Oscar Wilde foi um dramaturgo, escritor e poeta irlandês. Expoente da literatura inglesa durante o período vitoriano, sofreu enormes problemas por sua condição homossexual, sendo preso e humilhado perante a sociedade.

Um bom final de semana a todos!

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