24 janeiro 2013

O que tanto se fala sobre As Vantagens de Ser Invisível

Fonte: We Heart It

O primeiro comentário a respeito de As Vantagens de Ser Invisível, aqui no blog, ocorreu em 2010. Uma de nossas colunistas, na época, tinha acabado de descobrir o lançamento no Brasil e, aparentemente, estava in love por todo o universo complicado de Charlie e de seus amigos. Também a Fernanda, mais recentemente (disso vocês devem se lembrar), classificou a obra como uma de suas leituras prediletas - e mais viscerais - em 2012. A blogueira que lhes fala, no entanto, não sei se por insistência de deixar o livro para lá (como tenho feito com toda a série Jogos Vorazes até hoje), só teve o seu primeiro contato com a história de Stephen Chbosky através do roteiro que recebeu o filme homônimo. Ironias da vida, quem sabe, ou puro senso comum, a verdade é que, ao conhecer em minúcias a riqueza desta trama, pude enfim compreender os motivos que a tornaram tão celebrada em toda a blogosfera e no meio cultural.

Contando com a atuação de Logan Lerman no papel principal (o Percy Jackson meio capenga que inventaram de estragar), o espectador conhecerá aqui a juventude traumática de Charlie, um rapaz extremamente introspectivo, que perdeu seu melhor amigo - após este se suicidar - e passou por poucas e boas na infância. Como é típico nos filmes sobre adolescentes, acompanha-se o protagonista em seus primeiros dias de aula no High School, equivalente ao nosso Ensino Médio, com todo o constrangimento e o medo que costumam vir ao lado da transição. Tudo que poderia ser, todavia, típico, trivial, previsível ou clichê, no longa, acaba por aí. Porque quando Charlie conhece Patrick (Ezra Miller) e Sam (nossa sempre querida Emma Watson), as coisas convergem para um foco completamente distinto e o cinema estadunidense nos presenteia, ocasião muito rara, com um drama sobre jovens que vale a pena conferir.

 Charlie foi, para muitos, um personagem com o qual se identificar. | Fonte: We Heart It

As Vantagens de Ser Invisível foi um caso incomum em que assisti ao filme sem ter lido o livro. Por isso, aviso desde já que não serei capaz de avaliá-lo como adaptação cinematográfica, mas integralmente como obra da sétima arte em suas diferentes nuances. E estas são, de fato, várias. Sem perder a sua veia indie, a história não peca ao oscilar entre os extremos da vida de um jovem, os picos e os vales, trazendo uma visão muito realista de cada nova experiência vivida por Charlie com aquele gosto ambíguo de descoberta, nem sempre tão bom quanto se espera, mas inquestionavelmente distinto, fresco.

Nota-se pelo próprio roteiro que Stephen Chbosky não se limita ao explorar cada âmbito da vida do protagonista em sua particularidade. Das tantas faces do jovem, temos os problemas com a família - como a irmã e seu namorado com tendências violentas, além da tia que faleceu em um acidente de carro; a intimidade e a admiração mútua conquistadas com o professor de Literatura, o qual reconheceu a sua inteligência e passou a indicar-lhe listas de clássicos estadunidenses; porém, de maneira específica, é em sua mente que se foca, com todos os conflitos e confusões ocasionados por crises psicológicas. E seus amigos, claro, seus incríveis amigos que estão ao seu lado em cada primeira experiência dessa juventude marcada por um turbilhão de sentimentos e sensações: o contato com drogas, as bebedeiras, o primeiro beijo, a sexualidade aflorada, as festas e muito bom rock'n'roll de honrar qualquer trilha sonora.

Passional, delicado e invariavelmente duro, o filme também conta com um elenco merecedor de reconhecimento. Logan Lerman, como um Charlie introspectivo, ainda meio sem jeito em relação aos mistérios da juventude, perturbado e apaixonado pela primeira vez, foi ideal, em poucas palavras. Emma Watson, por sua vez, tirou-me qualquer impressão de que seria uma eterna Hermione. Tomando como base este longa, tenho certeza de que, daqui para frente, a atriz não será mencionada como "aquela menina que fez Harry Potter", mas simplesmente ela. Porque ela é fantástica. E isso sem mencionar Ezra Miller, o qual me conquistou de maneira muito franca com sua atuação intensa, conflitante e todos os tabus do homossexualismo em meio a esta. Prestem atenção neste nome, a propósito, porque um ator jovem que também já leva em sua bagagem a interpretação de uma das personagens mais perturbadoras da Literatura Contemporânea, o terrível Kevin, de Precisamos Falar sobre Kevin, não está no meio artístico à toa.

Ezra Miller e Emma Watson, definitivamente, deram certo no elenco. | Fonte:  M-Edia

Pragmatismos à parte, estaria sendo desonesta se dissesse que me identifiquei com tudo por que Charlie passa ao longo de As Vantagens de Ser Invisível, como tantos outros jovens declararam terem se sentido. O que não tornou, entretanto, a minha experiência com o filme menos merecedora de reconhecimento e admiração. Histórias assim, afinal, acontecem a todo o tempo e só um autor sensível, como Chbosky mostrou ser, - também diretor, neste caso - é capaz de trazer aos seus espectadores tantos sentimentos como os deste filme de qualidade ímpar. Numa questão de duas horas e alguns bons minutos - passam rapidamente, garanto -, a gente vai com certa facilidade dos sorrisos às lagrimas, convictos de que acompanhar Charlie valeu a pena, de que Heroes, do David Bowie, jamais será a mesma, e de que o grande barato da vida é ser infinito, ainda que num ínfimo espaço de tempo.


Aprovado nos padrões Ana de qualidade. Com méritos. Muitos.

Assistam ao clip, porque vale a pena!


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