Os 13 Porquês, de Jay Asher

Durante uma leitura, tem-se a possibilidade de passar pelos mais diversos sentimentos. Às vezes a narrativa traz puramente alegria, noutros, uma dor incômoda; tristeza também, quem sabe. O que experimentei com Os 13 Porquês, no entanto, e que há muito tempo não experimentava com outro livro, diga-se de passagem, foi uma verdadeira catarse, aliada à perturbação e à ansiedade de seu protagonista em saber o que cada uma das fitas cassete revelaria a respeito de Hannah Baker, uma jovem que cometeu suicídio, aparentemente sem explicação.

Clay é quem toma as rédeas da narração, neste caso. E a história dele começa, ironicamente, do fim, através do recurso estilístico de tempo psicológico empregado pelo autor, responsável por gerar maior tensão na obra, como também não deixar dúvidas a respeito da morte. A premissa, então, gira em torno de uma caixa de sapatos sem remetente que foi deixada na porta do rapaz. O que mais espanta, todavia, é o seu conteúdo: 7 fitas, com lados A e B (exceto a última), marcadas com números de 1 a 13. Estranhando o que pode haver em tais objetos, Clay procura por um tocador e começa a ouvir as gravações. Nelas, a jovem Hannah, morta há apenas algumas semanas, promete explicar todos os motivos que a levaram ao suicídio, enumerando culpados, inclusive, que inconscientemente conduziram-na até sua última decisão. Para as fitas terem chegado até ele, contudo, o protagonista passa a ser perseguido pela sombra da culpa de ser um dos responsáveis pela morte de uma menina por quem foi apaixonado.

"- E aí, o que tá pegando, Clay?
Repito suas palavras dentro da minha cabeça. O que tá pegando? O que tá pegando? Ah, já que você perguntou, recebi um pacote de fitas cassete pelo correio hoje, de uma garota que se matou. Parece que eu tive alguma coisa a ver com isso. Não tenho certeza que coisa é essa, por isso fiquei imaginando se poderia pegar seu walkman emprestado para descobrir.
- Nada demais - respondo."
p. 32

Ainda que seja um livro do gênero juvenil, é inegável a forte carga emocional que Os 13 Porquês carrega em suas páginas ao abordar um assunto tão pesado, tido até como tabu em meio a alguns adolescentes. Mas Jay Asher o faz de maneira surpreendente, através de uma narração ágil, na qual, em vez de capítulos, a divisão se faz através dos números das fitas. O próprio layout do livro, inclusive, remete ao objeto, levando insígnias de "play", "pause" e "stop" já conhecidas por todos nós de aparelhos que toquem música.

Entre as tantas qualidades da obra, difícil também não destacar a intensidade e a melancolia que carrega consigo. Pois unicamente através das gravações, uma vez que a menina já se foi, Clay sente que tem a chance de conhecê-la a fundo, destrinchando seus pensamentos, experimentando suas dores e lamentando por não ter tido a chance de fazê-la recuar. A culpa, aliás, é uma constante ao longo de toda a história, não apenas por parte do protagonista (que é uma das únicas personagens a agir no livro, sem ter suas ações mencionadas por Hannah), mas por parte de todos que têm a chance de compreender o impacto de suas atitudes no buraco sem fundo em que a moça mergulhava.

Grande parte da narração é predominada pelas gravações da jovem, destacadas em itálico e alternadas com os pensamentos do protagonista, além de suas impressões por todos os lugares em que visita, consciente de que Hannah esteve neles antes de morrer. Esta característica, a propósito, garante um enfoque natural na personalidade da menina que se suicidou, explorada de maneira muito íntima, pelo autor, a ponto de lhe render, em vários momentos, o brilho e a complexidade da obra. O leitor terá vontade de compreender Hannah, de auxiliá-la em seus momentos de tristeza e de pedir a todos que parem, pois, como o próprio livro enuncia em seu início, todas as coisas estão ligadas. Cada detalhe, mais minucioso possa parecer, contribuiu para uma bola de neve inconstante de desgaste, de dor e de renúncia à vida.

Perturbador, triste, forte e curto, ao mesmo tempo, Os 13 Porquês é um daqueles livros dos quais a gente dificilmente esquece. E uma rara exceção, também, em que a história juvenil vai além da superfície, chegando ao âmago de uma mente que, cansada de lutar e de implorar por ajuda, cede aos braços pretensiosamente acolhedores da morte.

Informações técnicas

Título: Os 13 Porquês

Título original: Thirteen reasons why

Autor: Jay Asher

Tradução de: José Augusto Lemos

Editora: Ática

Número de páginas: 254

ISBN: 978-85-08-12665-1

Gênero: Ficção norte-americana

O norte-americano Jay Asher teve a ideia de escrever Os 13 porquês enquanto visitava um museu e escutava os comentários gravados sobre as obras em um áudio-guia. Os 13 porquês é seu livro de estreia.

Bom sábado a todos!