14 fevereiro 2013

Reviravolta, de Michael Connelly

Em um bom romance policial, o que prevalece, indubitavelmente, é a capacidade de instigar o leitor com um enredo distinto e um final, no mínimo, surpreendente. Como prova disso, temos os mais variados estilos e autores no ramo literário contemporâneo, tais quais James Patterson, Harlan Coben, Sidney Sheldon e Agatha Christie (nem tão contemporânea assim, mas sempre válida), mantendo a tradição de boas histórias e de crimes com epílogos que tiram o fôlego de qualquer leitor.

Também neste meio, Michael Connelly vem se destacando por títulos renomados, os quais se devem, especialmente, à sua experiência como repórter policial e ao vasto conhecimento que o ofício e a observação lhe emprestaram. Após indicações positivas de outros leitores, então, e da própria Suma de Letras (responsável pela publicação dos livros do autor no Brasil), Reviravolta chegou à minha lista de futuras leituras com uma problemática promissora, trazendo-me a certeza de que tinha em mãos uma obra, ao menos, autêntica. Dito e feito, claro.

A história aqui leva Mickey Haller como protagonista, um advogado de defesa divorciado e cheio de ironias que é convidado, pela primeira vez em sua carreira, para atuar do outro lado dos tribunais, defendendo o Povo em vez dos criminosos, trabalhando à frente da promotoria. Tudo isso em decorrência do fato de se tratar de um caso que tem recebido muita atenção do país: Jason Jessup permaneceu ao longo de 24 anos de sua vida na prisão pela morte de Melissa Landy - uma garota de 12 anos, abandonada numa lixeira -, e a falta de evidências, além do testemunho da irmã da vítima, resultam na reabertura do julgamento, acompanhado de perto pela população e  pela mídia. O objetivo de Haller, assim, auxiliado pela ex-mulher e pelo detetive Harry Bosch, é não apenas tentar convencer o povo e si mesmo de que Jason não se trata de um pobre coitado e injustiçado, como também vencer a retórica de um inescrupuloso advogado de defesa e descobrir o que há por trás das lacunas deste caso há muito arquivado.

Não leio tantos suspenses e romances policiais quanto gostaria, todavia, a cada vez que tenho a sorte de encontrar uma boa publicação que siga esta linha, costumo ter uma experiência eletrizante de leitura. Daquelas que começamos em um dia e precisamos terminá-la no mesmo, independentemente de haver vários outros compromissos e tarefas na ocasião, puramente pela curiosidade (a qual, em dado momento, se torna necessidade) de saber qual caminho a história percorrerá. E com Reviravolta, sem sombra de dúvida, as coisas correram desta forma. Mas não da maneira convencional com a qual os crimes e suas motivações costumam se destrinchar. O grande trunfo e chamariz da publicação, neste caso, é o seu cenário: isto porque a maior parte do livro se passa nos tribunais.

A princípio, inclusive, o leitor desavisado poderá estranhar a ambientação. Naturalmente, entretanto, este lado que tão bem realça o ofício jurídico se torna fascinante. Na falta de cenas de investigações e personagens com linhas de pensamento tenebrosas - típicas do gênero -, somos contemplados com grandes defesas, réplicas e tréplicas de ambos os lados do tribunal, além de termos uma noção privilegiada da maneira com a qual o júri reage diante de um bom álibi e de um testemunho emocionante. Fica notável desde o início que Michael Connelly, como repórter experiente, entende bem do assunto. Paralelamente a isso, contudo, conferindo momentos de grande tensão à obra, há toda uma equipe de vigilância ligada ao réu durante as 24 quatro horas do dia. E suas atitudes suspeitas, em liberdade condicional, levam alguns profissionais a pensar que talvez haja algo de muito mais sombrio em seu passado.

A obra se divide em 6 partes e estas, por sua vez, alternam os capítulos entre Mickey (narrado em primeira pessoa) e Harry (terceira pessoa), trazendo duas perspectivas distintas do enredo e de seu andamento em uma narração ágil, com um bom jogo de palavras e muitos mistérios que enchem nossas cabeças com várias teorias. As minhas, a propósito, fiz questão de compartilhá-las com cada ser humano que me dirigia a palavra no decorrer da leitura. E também por elas, de certa forma, os leitores ansiosos poderão ficar decepcionados, ao final do livro, como a blogueira que lhes fala ficou. Algo de abrupto ou de muito sutil que, de meu ponto de vista, a um romance policial, não coube tão bem.

Salvo raras exceções e a dúvida final, que é um direito que Michael Connelly teve o êxito (e a infelicidade) de dar a seus leitores, Reviravolta é uma publicação impressionante, de leitura voraz, enredo envolvente e com muitos outros méritos que, como em qualquer romance policial, vocês terão que descobrir sozinhos.
"Algumas pessoas não querem ser encontradas. Tomam medidas para isso. Andam com um galho amarrado para apagar a trilha atrás de si. Outras estão simplesmente fugindo e não se importam com o que deixam em seu rastro. O mais importante é que o passado fique para trás e que continuem em movimento e se afastando dele."
p. 65
Informações técnicas
Título: Reviravolta
Título original: The Reversal
Autor: Michael Connelly
Tradução de: Cássio de Arantes Leite
Editora: Suma de Letras (exemplar cedido em parceria)
Número de páginas: 380
ISBN: 978-85-8105-117-8
Gênero: Ficção norte-americana; Romance policial

Michael Connelly decidiu ser escritor depois de descobrir a obra de Raymond Chandler na faculdade. O autor trabalhou como repórter policial por mais de dez anos e usou a experiência na cobertura de crimes para criar tramas e personagens que não saem das listas dos livros mais vendidos nos Estados Unidos. Seus cinco livros mais recentes lançados no Brasil – Echo Park, O mirante, O veredicto de chumbo, O espantalho e Nove dragões – fazem parte da coleção policial da Suma de Letras.


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