01 junho 2012

Um equívoco das redes sociais em massa

Créditos para Livia Cuesta
Como meros mortais, bons internautas e fãs das redes de compartilhamento, é inevitável que entremos no Facebook ou no Twitter algumas várias vezes por dia (mas rapidinho, só uma olhadinha), para checar se há algum recado na caixa de mensagens, alguma notificação ou uma menção daquele seu amigo que vai dar a palavra final para a saída do final de semana.

Nesses devaneios pelas atualizações e linhas do tempo, acabamos encontrando muitas coisas interessantes sendo compartilhadas que repassamos aos nossos amigos, os quais, por sua vez, repassam aos deles em diante, dando vida a esse ciclo vicioso e, algumas vezes, extremamente equivocado.

Ontem, uma amiga compartilhou a foto que vocês encontram ao lado com os seguintes dizeres, redigidos por um perfil famoso de compartilhamentos do Facebook:

"Tirei essa foto hoje em uma livraria aqui da cidade. O senhor, um provável morador de rua estava se divertindo de boa na lagoa lendo um livro aleatório de literatura da estante, com alguma dificuldade, acompanhando as palavras e as formando aos poucos com os lábios, balbuciando algumas sílabas como vocês podem ver.

Em poucos minutos dois seguranças chegaram andando com pressa acompanhados do gerente, pegaram-no pelo braço e o carregaram para fora à força. O senhor não reagiu, só baixou a cabeça e foi chorando até a rua. Fui atrás, com pena, e pude vê-lo encostar em um muro, sentar no chão e continuar chorando em posição fetal.

Acho que isso realmente é uma coisa pra se compartilhar, se fosse alguma vadia de 13 anos chorando porque queria um cara pra come-la , todos compartilhariam e achariam bonitinho."


Quando li, pela primeira vez, achei triste e quase cometi o erro de compartilhar. Daí, abaixando um pouco o cursor, acabei encontrando alguns comentários contestando a verossimilhança do texto extremamente dramático que redirecionavam os interessados ao link de onde realmente teria surgido tal imagem, publicada na quarta-feira, dois dias antes da do texto acima, e os dizeres que a acompanham, sem romantismos.

"Eu poderia escrever um texto para essa foto, tudo que pensei ao ver de perto esse senhor sorrindo com o que estava lendo e o mais legal de tudo é que nenhum funcionário ficou vigiando ou quis tira-lo da loja.
— em Saraiva Shopping Tijuca."


Repare que apesar de não haver muitos recursos no curto parágrafo, a usuária do Facebook, Livia Cuesta, conta a versão verídica da história, mencionando até o lugar em que a foto foi obtida. Mais abaixo, nos comentários da mesma, encontramos outras pessoas que gostariam de presentear o senhor, um morador de rua que vive a andar pela Tijuca, na qual fica a unidade referente da Saraiva.

Esta, a versão original e sem tristezas inventadas, teve as curtidas de 10,904 pessoas e foi compartilhada por 10,855. Já a versão mentirosa, que buscava apenas mais popularidade para o perfil, além de causar um reboliço por parte de muitos brasileiros que nem sequer leem, contou com nada mais nada menos que 31,518 facebookers para curti-la e, pasmem, 100,149 compartilhamentos.

Por isso que tanto falam da importância de comprovar a verossimilhança dos fatos compartilhados em redes sociais. Muitas vezes, eles são apenas produtos de uma massa que não se dá ao trabalho de reparar o quão dramáticos podemos ser quando queremos polemizar e ganhar audiência. Uma pena que vários amigos meus ainda estejam compartilhando a imagem com o texto errado. Tanto burburinho quando uma foto, pura, falava por si só.



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