02 outubro 2012

Belo Desastre, de Jamie McGuire

Travis Maddox foi uma personagem que chegou, definitivamente, com tudo no cenário literário. Por todas as partes, ao lançamento de Belo Desastre, só se falava nele. A ala de leitoras ficou apaixonada pelo mocinho no melhor estilo bad boy, rasgando de elogios ao famigerado e à sua sensualidade. A blogueira que lhes fala desta vez, contudo, tem o desprazer (ou seria prazer?) de discordar. Travis Maddox é possessivo, irreal e, pior, um chato dos grandes.

O enredo do livro em questão gira em torno de Abby Abernathy, uma jovem universitária aplicada e certinha que esconde um passado não tão meigo, e sua complicada relação com Travis, corpo tatuado, lutador clandestino no subsolo da universidade e, principalmente, mulherengo. É por intermédio de sua melhor amiga, America, e do namorado dela, Shepley, que os dois acabam se conhecendo certo dia, em meio a mais um dos espetáculos violentos das lutas às quais todos os universitários, bêbados e loucos por adrenalina, iam assistir. No dia seguinte, encontram-se novamente no refeitório e, daí em diante, atrelada a uma fortíssima atração e a uma aposta absurda, surge uma amizade improvável, seguida de, claro, um romance que promete ser único, intenso, sexy, arrebatador e blablabla, como enunciam as críticas contidas na orelha do livro, das quais, mais uma vez, tenho que discordar.

Com um enredo não tão inovador e que visivelmente segue uma tendência de apelo sensual vigente no mercado editorial contemporâneo, Belo Desastre é um livro fácil e rápido de ser lido, o que é bom de um lado, para os que não estiverem com muito paciência literária, e ruim de outro, em contrapartida. tamanha a frivolidade à qual a autora, Jamie McGuire, submete-se ao conduzir sua narrativa repetitiva, fazendo lembrar uma fanfiction escrita por uma adolescente apaixonada em diversos momentos

Apesar de não ter sido envolvida pela relação romântica presente na obra e pela própria tensão sexual que ela já anuncia na sinopse, tenho certeza de que muitos leitores - leitoras, especialmente, sem ofensas ou preconceitos -, cativar-se-ão pela bagagem que a história carrega consigo. O que genuinamente me incomodou, para ser mais honesta, foi o elenco. É difícil compreender como Travis, com seu jeito violento e impulsivo, possa se contradizer tanto ao tornar-se um verdadeiro babaca na frente de Abby, dando-lhe o apelido quase infantil e muito sem sentido de Beija-Flor que, não bastasse aparecer uma vez, repete-se ao longo de toda a narrativa. Por mais fictícia que a história seja e mais forte a crença de que o amor transforma o ser humano, a mudança de lutador e mulherengo quase repentina para amante fiel e incondicional foi, para mim, impossível de digerir, ou, em outras palavras, artificial. E também Abby, a mocinha que ficou de fora das críticas, é um paradoxo ambulante, cheia de segredinhos e de heroísmos, encontrando motivos a todo o tempo para renunciar seu amor em nome das dores que pode causar ao doce Travis. Sempre muito nobre. Além do fato de ter aquele enorme poder de atração das mocinhas chatas, tendo sido quase estuprada e salva, bem a tempo, por seu amado, ao qual vive submetendo sua vida e sufocando suas vontades, perdendo completamente a autonomia e a liberdade acadêmica no auge de seus 19 anos.

De artificialidade e irrealismos, eu poderia citar vários exemplos, mesmo para uma ficção. Mas basta dizer que, em dado momento da narrativa, logo ao início, quando Abby vai pela primeira vez ao apartamento de Travis, está usando um moletom, o cabelo preso e óculos para ele não enxergar direito os seus olhos, que tanto elogiava e, consequentemente, não querer ir à cama com ela. Tive que fechar o livro e começar a rir. Porque a vida às vezes é engraçada, e a gente realmente vai até a casa de um cara com o qual não quer transar, no meio da noite, para mostrar o quão desinteressada está.

Ironias à parte, o livro, para os que gostarem do gênero e não ficarem reparando em cada detalhe de sua composição, pode ser um bom entretenimento, de uma leitura dinâmica e rica em fluidez. Aos que buscarem por algo mais erótico, eu diria que o caminho ainda não é esse, pois, apesar de ter alguma sensualidade e descrições sexuais, falta-lhe o ingrediente especial da corrente, que você possivelmente encontrará em algo mais escancarado, como Cinquenta Tons de Cinza, embora eu mesma não o tenha lido com a suspeita de que é ainda pior. Aos românticos, a dose de sucesso é mais certeira, com um casal que cisma em ser errado, mas onde um não poderia ser mais ideal ao outro.

Informações técnicas
Título: Belo Desastre
Título original: Beautiful Disaster
Autora: Jamie McGuire
Tradução de: Ana Death Duarte
Editora: Verus (cedido em parceria com a Galera Record)
Número de páginas: 389
ISBN: 978-85-7686-191-1
Gênero: Ficção norte-americana

Além de Belo desastre, que já foi traduzido em onze idiomas, Jamie McGuire escreveu a série de sucesso Providence. Ela vive em Enid, Oklahoma, nos Estados Unidos, com os três filhos e o marido, um verdadeiro caubói. Eles dividem suas terras com quatro cavalos, quatro cachorros e um gato.

Uma boa terça-feira a todos,

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