De tanto querer grandiosidade, acabou se encantando com os
pequenos detalhes. Um sorriso daqui, uma bonita palavra dita dali. Leu minúcias
no dicionário e chegou à conclusão de que a vida era um longo caminho, daqueles
bem minuciosos.
Olhou para o lado e encontrou prazer nas coisas mais
simples, naquelas em que raramente se repara. Gostou da cor da parede da casa,
achou que o sol brilhou com mais intensidade numa manhã de primavera. Indo ao
mercado, viu que as verduras estavam quase que livres de machucados, como as
donas nas feiras gostavam de dizer. Ficou gripado e tomou mel com limão
suspirando, debaixo das cobertas.
Acordou num belo dia e se deu conta, de uma maneira estranha e
reconfortante, que viver era simples.
O homem, querendo tanto ser empreendedor e avançado e rico e
melhor e maior, esqueceu-se do prazer das coisas pequenas. Dos sabores e dos
dissabores, dos amores e dos desamores. Não daqueles eternos e trágicos, como
em Romeu e Julieta, mas daqueles meio passageiros. Aqueles amores vividos em um
segundo, numa troca de olhares carregada de sentimento. Aqueles sabores
picantes e instantâneos que confundem o paladar. Aqueles desamores afogados num
copo de bar.
Deixou de pensar no fim para apreciar cada estágio. As
brincadeiras da infância, as descobertas da juventude, as responsabilidades da
vida adulta, as reflexões da velhice. Parou de se queixar dos problemas e
curtiu a fossa de uma desilusão amorosa ouvindo música romântica mexicana. Em
vez de reclamar do som alto do vizinho, começou a apreciar os ritmos de pegada
popular. Não xingou no trânsito como o teria feito em outros dias, todavia, apenas
acenou ao motorista ao lado e desejou um bom dia, passar bem. Ao rapaz que
sorria, poderia ter dito não. Mas disse sim. Sim a ele, sim à vida, sim à
felicidade das coisas pequenas.
Sonhando tanto com férias na Europa, emprego perfeito em
Montreal, casamento na igreja com altar de ouro, família ideal, ser o número um
na lista de aprovados, acabou esquecendo-se de sonhar enquanto dormia. Sonhar
com coisas que nem sequer existem, que a paixão esquecida ainda vive, que o
passado, há tanto tempo abandonado, persiste em outra dimensão. Sonhar
acordado, com sorvete de pistache, com beijo com gosto de bala de morango, com
chuva de verão enquanto a gente se abraça no meio da rua.
São os detalhes, as minúcias e particularidades que compõem
a grandeza. O homem, tão preocupado em chegar ao topo, esqueceu-se de viver
cada degrau da escada. O homem, triste e grandioso, saiu num belo dia à caça da
felicidade e não a viu esperar discretamente, pura e simplória, numa esquina
dessas da vida.
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