27 dezembro 2012

O Pesadelo, de Lars Kepler

Em certo momento da narrativa, uma personagem de Lars Kepler compara uma sequência de crimes que está sendo cometida e a mente de seu assassino, respectivamente, a uma teia de aranha. Num contexto geral, no entanto, classificaria toda a trama de O Pesadelo da mesma forma. Intrincada, misteriosa, cheia de vítimas e possíveis desfechos.

Num convencional passeio de barco entre colegas, quando um casal resolve ancorar e descer até uma ilha sueca por apenas alguns minutos, um assassinato ocorre em alto-mar. A moça, que aparentemente nada tinha a ver com a encomenda do crime, é afogada e deixada numa cama a bordo. Alguns dias depois, um importante empresário se suicida com uma corda em seu apartamento, escutando música de violinos ao fundo. Embora, na superfície, os dois fatos nada tenham a ver um com o outro, o detetive Joona - personagem famosa do autor - passa a ligá-los pela força de seu infalível instinto. E vai lutar com todas as suas forças, físicas e morais, para provar a realidade.

Comecei a ler O Pesadelo sem muitas expectativas, apenas curiosa para conhecer de perto o universo de Lars Kepler. E desde o autor, a propósito, já tive surpresas, uma vez que ele representa o pseudônimo de não apenas uma pessoa, mas um casal. De minha parte, nada contra livros escritos em co-autoria. Apenas os acho curiosos, de um certo ponto de vista, pois creio que dividir as ideias e a montagem de uma narrativa não sejam as tarefas mais fáceis de se encontrar por aí. Devaneios à parte, de romance policial e suspense, garanto que Alexandra e Alexander Ahndoril entendem alguma coisa.

Com pouco mais de 400 páginas, repleta de detalhes e de mistérios que se ligam a outros, a trama aqui é concisa, aparentemente lenta em seu início, contudo com um bom ritmo, diversos núcleos de personagens que convergem para um ponto central e muitas intrigas garantidas. Interessante é também a abordagem inesperada de questões políticas mundiais sobre o tráfico de armas e o custeamento, por parte dos países ricos, de genocídios desumanos em tribos africanas. De um lado, como é típico do gênero, temos o detetive "acima das expectativas", cheio de ironia e de si mesmo. Joona Linna é aquela personagem que consegue ser irritante e cativante ao mesmo tempo. Acima de tudo, porém, representa a mente principal do livro, aquela que soluciona uma grande parte dos enigmas ou desvenda os detalhes por detrás de uma causa maior.

Aprecio o fato de os autores terem mantido o realismo da história na mesma medida em que mantiveram o lado fictício. Ainda que as perseguições e os assassinatos completamente refinados remetam a um lado dramatizado, típico dos romances policiais, há algo de muito verdadeiro no desfecho que convence, definitivamente. Embora a narrativa demore a ganhar a sua veia de ação e suspense, alongando-se em algumas minúcias que mais tarde farão ou não grande diferença, O Pesadelo consegue ser um livro surpreendente e ágil, capaz de captar a atenção do leitor a todo o instante. Há algo em seu âmago de sombrio e cruel que torna uma série de assassinatos um fato primordial para o desenvolvimento da problemática, o tal do pesadelo sempre à espreita na vida das personagens, de todas elas. Alguns sonhos destruídos, amores cruelmente mortos e uma constante ameaça.

Para os fãs de um bom thriller, este livro de Lars Kepler pode ser uma boa pedida. Sem um criminoso envolto em mistério propriamente dito, O Pesadelo convence o leitor pela tensão em que suas personagens se encontram a todo o tempo, pelas perseguições alucinantes, aguardando que algo de pior surja ou quem sabe alguém que seja capaz de lhes tirar de seu medo sempre presente.

Informações técnicas
Título:
O Pesadelo
Título original: Paganinikontraktet
Autor: Lars Kepler
Tradução de: Alexandre Martins
Editora: Intrínseca (cedido em parceria)
Número de páginas: 445
ISBN: 978-85-8057-253-7
Gênero: Suspense; Romance policial

LARS KEPLER é o pseudônimo usado pelo casal de escritores suecos Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril, ambos com obras já publicadas individualmente e bem recebidas pela crítica. Juntos escrevem romances policiais sobre as investigações do detetive Joona Linna.


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