01 fevereiro 2013

Stieg Larsson - Biografia, de Jan-Erik Petterson


Nunca tive vontade de ler uma biografia. Sempre optei por ler romances, eu estava convicta  de que a vida da pessoa teria que ser muito interessante para fazer valer a pena a leitura. Entretanto, assim que soube que a biografia de Stieg Larsson seria publicada, inesperadamente quis lê-la. Comprei então o livro esses dias, demorei para comprá-lo, já que ele não é um livro barato. Mas não me arrependo.

"Em um ponto, sem dúvida, ele provou ter razão: seus livros foram um sucesso.[...] Stieg não era propriamente um gênio financeiro. Agora, que deixara seu emprego na agência de notícias, eu me perguntava como ele se arranjaria financeiramente e se teria feito alguma reserva para o futuro. Ele declarou, confiante, que iria escrever uns romances policiais que o deixariam multimilionário. Quase não pensei mais nos planos dele depois daquela noite, mas, quando ele me mostrou o contrato de seu editor, percebi que bem que poderia ter razão."
Stieg Larsson não foi só um autor dos romances policias que conquistaram a Suécia e o mundo, como foi também um ativista político, jornalista e antirracista. A impressão que tenho ao ler a biografia de Larsson é de que estou lendo um livro de história, mas não, a vida dele foi marcada por partidos de extrema direita, nazistas e etc. A Suécia foi alvo de assassinatos em série, brigas de ruas entre partidos opostos e da influência do punk. Stieg viveu a história, ele estava lá quando tudo isso aconteceu. Ele lutava para que as verdades fossem reveladas em sua revista Expo, assim como Mikael Blomkvist na Millennium.
"A máquina de escrever era a sua companheira constante."
Existe uma relação muito grande entre a vida de Stieg e a sua obra. Diversos lugares citados no livro foram locais onde Stieg viveu ou conheceu bem. Vários personagens foram baseados em grandes líderes. A sua escrita teve a influência de grandes autores de romances policiais e de sua história. Jamais seria possível ter dado vida ao Millennium se ele não tivesse vivido tão politicamente ativo. Sem contar no quesito pesquisas, pois, segunda a biografia, a revista Expo possuía uma acervo enorme sobre partidos, ataques e disputas. Na série Millennium, Mikael é extremamente competente com pesquisas e em obter informações difíceis, exatamente como Stieg fez muitas vezes.

De certa forma Mikael é Stieg, ele arrumou um jeito de jamais ser esquecido: transformou a si próprio em um personagem. Pode ser que não tenha sido intencional, mas o fato é: existem muitas semelhanças entre eles e desconfio de que as diferenças talvez sejam a projeção daquilo que Stieg gostaria de mudar ou melhorar  em si próprio.

Durante um período, Stieg trabalhou em uma agência de notícias em uma combinação de  textos, fotos e artes gráficas. Para esse departamento, como chefe, foi nomeado Kenneth Ahlborn. Em uma conversa com Stieg, Kenneth afirma que "Stieg Larsson estava decidido a escrever um livro sobre uma Píppi Meialonga com distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade, o que aconteceria com ela mais tarde, aos vinte anos. Provavelmente não se sairia muito bem na sociedade moderna, receberia um diagnóstico de doença mental e seria trancada numa clinica psiquiátrica, talvez até submetida a maus-tratos físicos ou psicológicos, e sairia de lá com sede de vingança."

A biografia escrita por Jan-Erik Pettersson nos dá uma boa ideia de quem era Stieg Larsson como um cidadão de seu país, no enfoque político, social e literário (já que ele era um jornalista). Assim, não fala tanto de sua vida pessoal, o que, na minha opinião, caiu bem. Já que o autor nunca foi muito fã de publicidade e sempre se manteve discreto. Acho que, se ele estivesse ainda vivo, iria preferir que fosse assim.
"Stieg tinha um conhecimento quase enciclopédico sobre assuntos como política e história, em especial a Segunda Guerra Mundial. Em outras áreas que não o interessavam - música, esportes, por exemplo -, ele era assumidamente ignorante."
O livro é repleto de referências a fatos históricos, momentos e explicações sobre o contexto político-social durante a vida de Stieg Larsson. Acredito que o autor tenta ser ponderado na escrita e bem fiel aos fatos e à vida de Stieg. Além de tentar capturar a impressão sobre ele de diversas pessoas que conviveram durante toda ou parte de sua vida.

Karine Pestana

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