Imagem: Open Your Mind/ We Heart It |
Descobri muito cedo que
reclamar da vida era uma conduta inata do ser humano. Ainda que
nossos percursos tenham um longo trecho bom pela frente – ou ruim,
nunca se sabe -, sempre haverá algo de que reclamaremos, por menor e
menos relevante seja. A tal pedra no meio do caminho de Drummond,
este senhor que a poesia tão delicadamente agraciou.
De minha parte, como
universitária e meio jornalista (jornalista por inteiro só quando
estiver formada, pode ser?), as reclamações são referentes ao
tempo. A este titã ingrato que me consome e é consumido por mim de
maneira tão voraz; ao senhor Cronos que, de persona cruel, acabou
por me submeter à irreversível ditadura de suas horas. A cada ação,
a cada novo trabalho, a cada simples ato de procrastinar, tenho a
impressão de estar sendo perseguida por um som muito sutil, ao
fundo, de um relógio a tiquetaquear. Ou talvez seja apenas complexo
de cronista em crise; talvez seja também inspiração vinda do
subconsciente de um daqueles contos alucinantes de Edgar Allan Poe.
Sei lá.
Peço cordialmente, no
entanto, caro leitor, que releve minha intertextualidade
aparentemente infundamentada. É coisa de umas orações e nada mais.
Engraçado, meio
estranho – caótico – que vinte e quatro horas não sejam
suficientes. E são, de certa forma. São desde que o mundo está aí,
independentemente dos caprichos de alguns prosadores e reclamões.
Estranho como, quando damos maior atenção a algo, o passado
simplesmente já passou; e que o presente, por sua vez, este instante
ínfimo que tanto inquieta os pensadores (e as donas de casa e os
operários que sobem a construção) mal possa ser captado por quem
vislumbra fragmentos de um tempo que, como já bem diziam as tias, as
avós e todo o resto da família, passa muito rapidamente.
Receio também que nós simplesmente não saibamos lidar e administrar cada minuto do qual somos possuidores. Com a mania de adiar, de deixar pra lá e de esperar que as coisas aconteçam, acabamos nos tornando coadjuvantes das histórias de nós mesmos. Nesta compulsão por largar tudo a cargo do futuro, vem a vontade de reclamar e aquela solução típica - atire a primeira pedra quem nunca a sugeriu – que propõe um dia com mais horas. Vinte e seis, vinte e oito, quarenta (quarenta é muita coisa, né?), então paremos no trinta. Um dia com trinta horas
Trinta horas para
terminar de ler aquele livro gigantesco do Tolstói. Ou trinta horas
para fazer de vez uma receita de carne assada. Trinta horas para se
dedicar com mais afinco aos estudos, pensar em iniciação
científica, fazer hidratação no cabelo de quinze em quinze dias,
ler uns três jornais diferentes e comparar as suas notícias.
Oportunas para quem quiser assistir a todos os episódios de uma
série nova, ligar pra mãe e mandar um beijo, entrar pra academia,
fazer uma corrida pela cidade. Ou simplesmente dormir mais,
recompensar toda a energia que uns bons copos de café cederam de
maneira tão generosa aos nossos intelectos.
Com sua permissão
agora, contudo, findo parte da utopia. Utopia porque talvez estas
trintas não sejam tão boas quanto aparentem. Já pensou num mês
com novecentas horas? E agosto, com trinta a mais? Como lidariam os
amantes separados diante de um empecilho ainda maior que todas as
intempéries do coração? E a saudade, com a qual o tempo já é tão
cruel? Vá, trinta horas.
Pior ainda para nós,
inspirados por natureza e preguiçosos por estilo de vida, se essas
seis horas a mais só somassem reclamações sobre a vida. E sobre
como o tempo, repentinamente, passou a demorar tanto para passar.
Poderia ser mais rápido, não? Vinte e quatro horas, por favor!
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