Quando mais nova, por exemplo, quase uma criança, era apaixonada por um dos garotos de minha escola e acreditava muito sinceramente estar sendo correspondida pelos olhares e gestos carinhosos. Daí, num dia, a gente muito ingênuo descobre que o amor é mesmo cego, capaz de enxergar o mundo mais brilhante do que ele o é de fato, percebendo que aqueles gestos e olhares eram, na verdade, teatrais, para causar ciúmes no verdadeiro alvo amoroso. Chorei por um bom dia, mas no outro já estava dando risada com meus colegas e tendo os primeiros vislumbres de como os sentimentos e a vida são delicados, repentinos e até, por que não, engraçados.
Namorado de verdade, de apresentar à família e passar o Natal em casa, só tive um, do qual guardo queridas lembranças. Um namoro de um começo muito feliz e que, todavia, como para todas as coisas boas que começam, havia, na outra extremidade, um fim. Um fim naturalmente triste, parte do ciclo da vida que marca de maneira simbólica os novos começos que estão por vir. Quando acaba, a gente fica agoniado, chora, descabela e pensa que nada mais vai dar certo, mas daí vem a vida e o tempo impossível de parar para mostrar que tudo há de seguir em frente e o passado, um dia, vai virar apenas passado.
Por Isso A Gente Acabou, de Daniel Handler, livro da última resenha publicada no blog, é também sobre isso: seguir em frente. Nele acompanhamos as memórias tão recentes de Min acerca do amor vivido entre ela e Ed, do quão pulsante ainda é esse sentimento em seu coração e o quão necessário pode ser lembrar para, no futuro, aceitar e esquecer. É uma história, em seu corpo geral, semelhante a tantas outras, que poderia ter acontecido com qualquer um de nós, fazendo-se sempre próxima de seu leitor, capaz de compreendê-lo e de incluí-lo na paixão e na perda tão íntimas dos dois jovens. É um convite ao amor e ao desamor numa dosagem feita sob medida por quem já se apaixonou e levou alguns foras no Ensino Médio, como diz a biografia do autor na orelha de Por Isso A Gente Acabou.
Imagem do site |
Pensando no quão universal estes sentimentos paradoxais podem ser, Daniel Handler e Maira Kalman (a ilustradora do livro que, acreditem, é de suma importância em seu desenvolvimento, complementando com maestria a narrativa do autor) uniram-se para criar o Tumblr "The Why We Broke Up Project" (o nome original do livro é Why We Broke Up) para que os leitores se sentissem à vontade para compartilhar suas desilusões amorosas, segmentadas, inclusive, em categorias muito bem-humoradas de acordo com os motivos do término, como "Eu te pegaria de volta em um minuto" ou "Eu não acredito que você vestiu isso". Além da participação majoritária de internautas comuns, há uma aba do site em que encontramos o Por Isso A Gente Acabou de autores famosos, caracterizados pelo mesmo humor de Daniel.
Para os que estiverem interessados, todos os depoimentos publicados ficam em anonimato, então dá para soltar o verbo sobre aquele motivo oculto do fim do seu namoro sobre o qual você não teve coragem de conversar com ninguém. O único problema é que o tumblr, por ser original dos autores, é todo em inglês e os textos enviados por leitores também devem, naturalmente, ser. Para quem não entender o idioma e tiver ficado curioso mesmo assim, deixo aqui no blog um dos testemunhos que encontrei na página inicial e o traduzo por conta própria abaixo:
"Eu te conheci na Universidade. Você foi o meu primeiro amor. Você passou um ano e meio comigo, dizendo que me amava, e um dia poderia se imaginar casando comigo.
Então quando eu me mudei para começar um novo emprego, você ligou para me contar "que você não queria percorrer uma longa distância", e, "você não estava pronto para esse nível", despedaçando meu coração no processo.
Uma parte de mim deseja que você tenha traído, assim pelo menos eu poderia te odiar apropriadamente, ou ter um motivo por detrás do nosso término superficialmente menos patético que os seus clichês.
Agora eu recebo e-mails e mensagens suas, assim como você sente a minha falta. Você não quer a responsabilidade de um relacionamento, mas não suporta me deixar seguir em frente, então me mantém no limbo. O que é pior é que mesmo pensando no quão egoísta você é, eu ainda te amo."
Só nos resta esperar que a ideia do tumblr dê certo e que ele também venha para o Brasil para que as histórias sejam compartilhadas em nossa língua portuguesa, na qual a saudade das grandes desilusões amorosas é uma palavra exclusivamente nossa.
Fontes:
The Why We Broke Up Project
Blog da Companhia das Letras
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