29 dezembro 2012

O Pacifista, de John Boyne

John Boyne já havia conquistado a admiração de seus leitores com livros como O Menino do Pijama Listrado e O Garoto no Convés, por exemplo, dois best-sellers de extrema sensibilidade, repletos de emoções. Comigo, por outro lado, a comprovação de que o autor era realmente bom veio em O Palácio de Inverno, um livro como poucos que tive a oportunidade de ler neste ano. Logo - assim também pensaram outros de seus admiradores -, não tardei a me interessar por este lançamento e, uma vez com ele em mãos, tive certeza de que O Pacifista se tratava de mais uma obra de peso no seu rico acervo literário.

Para os seus romances com os quais pude ter contato até agora, considero que haja algumas palavras de ordem, sendo elas: delicadeza, tristeza e amor. Não apenas o romântico, o convencional. Mas aquele que se amplia a todos os relacionamentos possíveis, como forma de salvação e auxílio mútuo. Nesta nova história, então, temos contato com Tristan Sadler, um homem marcado pela solidão que se tornou soldado, na Primeira Guerra Mundial, ao ser expulso de casa pela família. Em meio ao cenário hostil dos treinamentos e dos combates, no entanto, ele conhece o adorável William Bancroft e passa a ter uma amizade complicada com o rapaz; uma relação cercada de outros sentimentos ainda mais complexos e duros em meio a um mundo que tem tão pouco a lhes oferecer. 

Retomando sua narração de cunho psicológico (já vista em O Palácio de Inverno), John Boyne conduz o enredo de O Pacifista em dois momentos cronológicos distintos. Uma parte fala do passado de Tristan, desde os tempos em que morava com sua família até a guerra; enquanto que a outra, mais recente, relata, alguns anos depois, o encontro do rapaz com Marian Bancroft, irmã de Will, a quem ele gostaria de entregar cartas e, principalmente, revelar um segredo dos tempos antigos que o corrói por dentro. Ambas as partes, como é de praxe, são narradas em primeira pessoa pelo protagonista, conferindo, neste caso, ainda mais emoção à obra, dor e pesar por parte do leitor.

De todos os livros que tive a oportunidade de ler neste ano, ainda que já tenha feito listas e mais listas, arriscaria dizer, sem vacilar, que O Pacifista foi o mais duro, o mais triste em seu contexto e, de uma forma ou de outra, também um dos mais belos. Boyne, ao trabalhar numa linha paradoxal, mostrou a grande desgraça humana no período de guerra, ao mesmo tempo em que deu ao amor uma forma de esperança e, por outro lado, de desilusão. Os conflitos psicológicos do livro estão expressos nas poucas personagens de destaque com as quais ele conta e conferem maior relevância à obra, aprofundamento. São batalhas internas da mente e o desgaste constante de um Tristan extremamente solitário, triste e confuso.

De uma maneira hábil, o autor traz o assunto do homossexualismo ao livro com todos os seus impasses e, acima de tudo, com o amor a que ele se liga, assim como em qualquer outro relacionamento. Acredito que a época em que ele é abordado, meados das décadas de 10 e 20 no século XX, justamente, torna tudo ainda mais delicado, numa sociedade em depressão pós-guerra, ainda arraigada de preconceitos em se tratando de opção sexual e até mesmo de gênero, como brevemente se fala a respeito do sufrágio universal, em seu pleno início, através de Marian.

John Boyne, mais uma vez, colocou com maestria suas emoções e as de suas personagens no papel. Com uma linguagem madura e uma narração emocionante, contestando e retratando todos os lados da guerra e todas as guerras que podemos travar com os outros e com nós mesmos, posso terminar 2012 com a certeza de que, novamente, li um livro triste e fantástico redigido por um autor que sabe como contar histórias. E que ainda deve contar muitas outras por aí.

Informações técnicas

Título: O Pacifista
Título original: The absolutist
Autor: John Boyne
Tradução de: Luiz Antônio de Araújo
Editora: Companhia das Letras (cedido em parceria)
Número de páginas: 302
ISBN: 978-85-359-2193-9
Gênero: Ficção irlandesa


John Boyne nasceu na Irlanda, em 1971, e mora em Dublin. Escreveu outros seis romances e foi traduzido para mais de quarenta idiomas. Seu livro mais célebre, O menino do pijama listrado (2007) lhe rendeu dois Irish Book Awards, vendeu mais de 5 milhões de exemplares pelo mundo e foi adaptado para o cinema em 2008.
Um bom sábado a todos!


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